Pressão sobre Sanders para desistir da corrida democrata vai aumentar. Obama deve anunciar apoio à ex-secretária de Estado ainda esta semana.
Apesar de a Associated Press já ter anunciado que acabara de alcançar o número mágico - os 2383 delegados que lhe garantem a nomeação democrata para as presidenciais de 8 de novembro nos EUA -,Hillary Clinton preferiu mostrar-se prudente. "Estamos à beira de um momento histórico, mas ainda temos trabalho pela frente", afirmou em Long Beach. A Califórnia é um dos seis estados que ontem foi a votos e a ex-primeira-dama sabe que mesmo já sendo a presumível nomeada, precisa de ganhar a Bernie Sanders para afastar a ideia de que só venceu graças aos superdelegados e não ao voto popular. E para poder dedicar-se à guerra que tem pela frente contra Donald Trump e que os media americanos anteveem como a mais feia" da história dos EUA.
Sanders esperava ontem por uma vitória na Califórnia, garantindo que ia lutar até ao último voto para levar a disputa democrata até à convenção de 25 a 28 de julho em Filadélfia. Aí será oficializado o candidato do partido às presidenciais e neste momento, recorda o senador do Vermont, Hillary só tem uma larga vantagem sobre ele (e chegou aos mágicos 2383 delegados) com o apoio dos chamados superdelegados. Congressistas, senadores, governadores e outros eleitos democratas, estes são livres de votar em quem quiserem na convenção. Até agora, 571 juraram fidelidade a Hillary, só 48 apoiam Sanders. Mas como a decisão deles pode ser mudada até à convenção, o senador acredita que se vencer na Califórnia tem hipóteses de fazer alguns mudar de ideias.
Mas com Hillary a alcançar o estatuto de presumível nomeada - a primeira vez na história dos EUA que um dos principais partidos escolhe uma mulher para candidata à Casa Branca -a pressão para Sanders se retirar da corrida vai aumentar. A própria ex-primeira-dama lembrou que há oito anos ela desistiu a favor de Barack Obama e declarou o apoio ao rival nas primárias democratas: "Fiz a coisa certa. Não importa as diferenças que tivemos durante a campanha, não era nada frente às diferenças em relação aos republicanos." E deixou um recado a Sanders para que ajude a "unir" o partido contra Trump. Em 2008, Sanders foi um dos superdelegados que apoiaram Obama e pressionou Hillary a desistir a favor do rival.
Agora, a mensagem antissistema do senador do Vermont, de 74 anos, encontrou grande repercussão junto dos jovens e das classes mais desfavorecidas. Hillary, cuja longa experiência - além de primeira- -dama, foi senadora e secretária de Estado - ninguém nega que a tenha preparado para ocupar a Casa Branca, continua com dificuldade em conquistar a confiança dos americanos. O último estudo do PollingReport revela que não só 49% dos inquiridos têm opinião desfavorável de Hillary como 45% não a consideram honesta.
Batalha final
Com Hillary e Trump com as respetivas nomeações praticamente garantidas, as atenções viram-se agora para o duelo que vão protagonizar nos próximos meses. "Dezenas de milhões vão sintonizar as televisões para ver o maior insultador dos nossos tempos denegrir uma das mulheres mais famosas do mundo", escrevia há dias Edward Luce no Financial Times. O jornalista, colunista do jornal económico britânico sediado em Washington, compara a luta entre a candidata democrata e o adversário republicano aos combates de gladiadores na Roma Antiga.
"Dezenas de milhões vão sintonizar as televisões para ver o maior insultador dos nossos tempos denegrir uma das mulheres mais famosas do mundo"
Nas últimas semanas já tivemos uma pequena amostra do que espera nos próximos meses. Desde que ficou sem rivais republicanos - com a desistência de Ted Cruz e John Kasich -, Trump tem centrado os ataques em Hillary, acusando a ex-primeira-dama de usar a "carta feminina". E o milionário, que se notabilizou pelas declarações polémicas seja sobre imigrantes, muçulmanos ou, precisamente, as mulheres, não poupou também o ex-presidente Bill Clinton que acusou de ser um "violador". Trump garantiu ainda que Hillary ajudava a encobrir os abusos sexuais praticados pelo marido, calando as suas alegadas vítimas.
A ideia de esta vir a ser a campanha presidencial "mais feia de sempre" na história dos EUA surgiu também na NBC, com o site da televisão americana a recordar que no passado os candidato também não pouparam insultos. Desde Thomas Jefferson que em 1800 acusou John Adams de ser "hermafrodita" a Steohen Douglas que chamou bêbado a Abraham Lincoln em 1860, recorrer a golpes baixos e ataques pessoais contra o rival é tudo menos novo. Mas os analistas estão convencidos de que com Trump os ataques podem atingir um outro nível. Ainda mais baixo. "Não há dúvidas de que a maldade de Trump vai continuar, afinal tem dado ótimos resultados nas urnas até agora", escrevia o jornalista Jake Novak em maio.
Agora, com os candidatos mais definidos, a corrida à Casa Branca promete ficar mais animada, com Barack Obama, há muito à espera de uma decisão do lado democrata, a entrar na campanha em apoio a Hillary ainda esta semana. Ao seu lado terá o vice-presidente Joe Biden, que chegou a considerar uma candidatura. Obama tem multiplicado os ataques e críticas a Trump e com o à-vontade que lhe conhecemos e uma retórica poderosa pode ser uma arma essencial para colocar na presidência alguém que ele espera continuar o seu legado. Segundo uma fonte próxima de Obama citada pela CNN, o presidente "está louco" por entrar na campanha.