Inédito na medicina portuguesa. Mãe estava em morte cerebral desde fevereiro e foi mantida "viva" para permitir gestação do bebé
As equipas de Obstetrícia e da Unidade de Neurocríticos do Centro Hospitalar de Lisboa Central (CHLC), que pertencem o hospital S. José e Maternidade Alfredo da Costa, procederam, esta tarde, a uma cesariana programada, "com o objetivo de fazer nascer uma criança, cujas últimas semanas de gestação ocorreram com a mãe em estado de morte cerebral", adiantou o centro hospitalar, em comunicado.
O bebé - um menino - nasceu com 2,350 Kg, após uma gestação de 32 semanas, num parto que não registou quaisquer complicações. O parto realizou-se no hospital de S. José e o bebé foi encaminhado para a Unidade de Cuidados Intensivos Neonatais da Maternidade Alfredo da Costa.
A morte cerebral da mãe, S., de 37 anos, na sequência de uma hemorragia intracerebral, foi declarada no dia 20 de fevereiro, pelas 23h43. "Perante a gravidez em curso, S. foi avaliada pela obstetrícia, que considerou que o feto se encontrava em aparente condição de saúde. Após parecer da Comissão de Ética e Direcção Clínica do CHLC e numa decisão concertada com a família de S. e família paterna da criança, foi acordada a manutenção da gravidez até às 32 semanas, por forma a garantir a viabilidade do feto."
O Conselho de Administração procedeu à nomeação de um Conselho Científico para acompanhamento do processo, em cuja composição se integrou um representante da Ordem dos Médicos, um representante da Comissão de Ética, um obstetra e a equipa de intensivistas.
De acordo com as equipas médicas que acompanharam o caso, trata-se do período mais longo alguma vez registado em Portugal - 15 semanas - de sobrevivência de um feto em que a mãe está em morte cerebral.