Estudantes matriculados nos 2.º, 5.º e 8.º anos são cem mil por ano. Nem metade fizeram as provas, que não são obrigatórias
As provas de aferição arrancaram para menos de metade dos alunos que deviam ser abrangidos por elas. Como só 57% das escolas avançaram com o processo - que para o ano já é obrigatório para todas -, dos 300 mil potenciais estudantes só 125 mil foram testados nos conhecimentos a Português. As provas, no entanto, decorreram sem problemas e o ministro da Educação, Tiago Brandão Rodrigues, garantiu existir "um número significativo também para aferir o sistema e para termos uma ideia real relativamente ao sistema".
Os diretores que optaram por avançar já com as provas de aferição nos 2.º, 5.º e 8.º anos reconhecem que estas correram de forma tranquila. Manuel Pereira, presidente da Associação Nacional de Dirigentes Escolares (ANDE) e diretor do agrupamento de Cinfães, explicou que aderiu já neste ano às provas para "defender a escola pública e mostrar que as escolas estão prontas para colaborar com qualquer modelo de avaliação". Filinto Lima, presidente da Associação Nacional de Diretores de Agrupamentos e Escolas Públicas (ANDAEP), também realizou as provas no seu agrupamento, em Vila Nova de Gaia, e justifica que as escolas que não fizeram têm sistemas de aferição internos e resolveram aplicá-los ainda neste ano.
As escolas vão depois usar os resultados das provas, que devem chegar em julho, para constituir as turmas de acordo com as fragilidades identificadas nos alunos. Além disso, esperam que os relatórios ajudem os professores a preparar o trabalho com os alunos no próximo ano. "A expectativa é que os resultados cheguem durante o mês de julho para as escolas poderem tomar decisões em relação às turmas", apontou Manuel Pereira. Uma data que o ministério confirmou ao DN.
Do otimismo ao medo de rasteiras
"Foi mesmo fácil. Se eu não tiver tudo certo, vou andar perto disso. Devia era contar para nota", comentava Luís, a quem a prova de aferição de Português do 5.º ano correu ontem de manhã sobre rodas. Quase tão bem como a prova do 8.º ano, já da parte da tarde, a Joana, que, ainda assim, ficou a "torcer o nariz" à gramática. "Foi muito parecido com o que tem saído nos testes, talvez até mais fácil. O meu medo é se havia rasteiras", receava a aluna. Mais confiante estava Madalena. A prova do 2.º ano tinha sido "mais fácil" do que aquelas que a professora fez. Se Português correu bem, Matemática vai correr melhor. "É onde sou mais forte", justifica.
Madalena, de 8 anos, esmerou-se para chegar bem preparada à escola que frequenta em Almada. "Saiu um texto com uns meninos que se tinham perdido na selva. Depois havia nomes de animais por ordem alfabética. Acho que está tudo certo", dizia, garantindo que toda a matéria que saiu tinha sido "dada na escola na preparação para a prova".
Luís e Joana são ambos de Setúbal e frequentam a Escola Lima de Freitas. Ele garantia que "estudou pouco" e que não esteve nada nervoso, enquanto a aluna se aplicou no fim de semana sem conter algum estado de ansiedade. "A compreensão oral foi fácil, porque estou muito habituada a isso", contava Joana, revelando ter assistido a um excerto de um documentário televisivo, a um texto científico e à Odisseia de Homero adaptada para jovens. "Houve um conjunto de perguntas em que era preciso selecionar itens, mas isso correu bem", dizia, mostrando desconfiança com a gramática."
Pediam para identificar a que classe pertenciam algumas palavras. Não é a minha praia", lamentava, congratulando-se com o tema da composição. "Era uma aventura num país distante. Uma história sobre refugiados até 250 palavras", resume.
A prova de 5.º ano começava com a interpretação de dois textos, com Luís a admitir que "conhecia aquela história da Floresta [de Sophia de Mello Breyner Andresen]. A composição foi sobre isso", revelava, elogiando o excerto do documentário televisivo sobre a serra da Arrábida. "Também já tinha visto na SIC", admitia, considerando que "até ajudou na parte da oralidade". E quanto à gramática? "Havia muitas cruzes, para definir advérbio ou adjetivo", resumia.
A Escola Lima Freitas decidiu realizar as provas de aferição aos seus 282 distribuídos pelos 2.º, 5.º e 8.º anos, numa opção da diretora do Agrupamento, Dina Fernandes, justificada com o facto de procurar estabelecer prioridades para o próximo ano letivo. "Os relatórios individuais serão importantes para tomar definir medidas de acompanhamento, para que possamos melhorar os resultados dos alunos", justificou.