Líder parlamentar foi protagonista em debates quinzenais, intensificou ações na estrutura e ganhou espaço para o pós-Passos
Luís Montenegro tem seguido, desde o congresso, uma "agenda própria" pelas estruturas do PSD, marcando pontos para a sucessão de Passos Coelho. O líder parlamentar assumiu nos últimos dois meses um crescente protagonismo no partido, afirmou-se como a segunda figura do PSD e intensificou a presença em ações junto da estrutura laranja por todo o país.
Uma iniciativa ambiciosa de Montenegro até obrigou o presidente do PSD a ir atrás do líder parlamentar, quando a bancada decidiu lançar jornadas pelo país.
Além disso, nos últimos meses houve alguns atos de gestão da bancada (incluindo de pessoal) feitos por Montenegro sem a consulta prévia de Passos, o que foi entendido como uma afronta e demonstração de força à liderança.
No entanto, fonte próxima da direção do PSD acredita que este "protagonismo de Luís Montenegro foi consentido por Passos Coelho", daí que "a maioria das iniciativas dessa "agenda própria" tenham sido anunciadas e promovidas pelo gabinete de imprensa do partido, mesmo que decididas unilateralmente pelo próprio Montenegro".
A mesma fonte admite, no entanto, que Montenegro " é hoje a segunda figura do PSD, porque o jogo político passa todo pelo Parlamento". De acordo com a fonte social--democrata: "O Jorge [Moreira da Silva] será o número dois oficial, como primeiro vice, mas na regra não escrita é claramente hoje o Luís Montenegro, tal como era António Costa no PS de Sócrates."
Fazer de Passos no Parlamento
Nunca Montenegro teve uma agenda tão intensa no partido. Após o congresso, substituiu Passos Coelho em dois debates quinzenais (14 e 28 de abril) com o primeiro-ministro, situação quase inédita no hemiciclo. Chegou maio e também vozes a apontar Montenegro como potencial sucessor de Passos.
No início do mês passado, o ex--líder Marques Mendes elegeu Luís Montenegro como um dos "três candidatos prováveis" a suceder a Passos (os outros dois eram Maria Luís Albuquerque e Rui Rio). Mendes destacava, aliás, que o líder parlamentar "tem ganho estatuto e visibilidade".
Em maio, a tal agenda intensificou-se. No dia 11, o líder da ban-cada foi a À-dos-Cunhados - em plena crise dos contratos de associação - visitar o Colégio de Penafirme. Dois dias depois foi à tomada de posse do PSD-Faro. Passaram mais dois dias (15 de maio) e nova presença na estrutura: na Festa da Primavera do PSD de Loulé.
A 18 de maio reuniu-se com a Confederação do Turismo e, no mesmo dia, assinou um artigo em defesa dos colégios privados no órgão de comunicação oficial do PSD, o Povo Livre. Ao que o DN apurou, além do que foi anunciado, Montenegro esteve ainda com estruturas do PSD no Porto e em Valpaços.
O timoneiro das jornadas
Nessa mesma semana, a direção de bancada que lidera obrigou o partido a ir atrás das iniciativas que preparam. Foi Luís Montenegro quem apresentou e apareceu como grande timoneiro das Jornadas de Valorização do Território, que colocaram os 89 deputados do PSD em campanha pelo país a explicar as propostas do partido no Programa Nacional de Reformas.
Ao que o DN apurou, a iniciativa partiu da bancada e a direção do partido limitou-se a apoiar e a juntar-se ao que estava definido, afinando e acertando agulhas. Momentos antes da apresentação da iniciativa, a 20 de maio, fonte da bancada deixava escapar: "Isto era uma iniciativa da bancada, mas nas últimas horas parece que passou também a iniciativa da direção."
Na apresentação, Montenegro garantiu que tudo foi concertado com a direção e também com "as estruturas locais". Factual é que o líder parlamentar vai ganhando força e cada vez mais rede junto do aparelho. Fonte da direção da bancada social-democrata disse, no entanto, ao DN que "não há aqui nenhuma concorrência entre o líder parlamentar e o partido".
O mesmo deputado disse ao DN que "o que acontecia quando o partido estava no governo é que nos eventos do PSD marcavam presença, na ausência de Passos, ou o Marco António ou o Jorge Moreira da Silva". Num outro plano, continua a mesma fonte, "iam às iniciativas os ministros e os secretários de Estado. Só depois vinha a bancada. Agora as coisas alteraram-se e o Luís Montenegro é uma das figuras mais solicitadas para esses eventos".
Quanto à sucessão, uma das últimas vezes que Montenegro falou sobre o assunto foi em entrevista ao DN em dezembro. Na altura, o líder parlamentar disse que na sua "leitura política" não antecipava "grandes problemas de liderança nos próximos anos no partido." Montenegro admitia que Passos "obviamente não será eterno", mas dizia-se empenhado em ajudar o líder e não em desafiá-lo.
Passos foi eleito com mais de 95% dos votos e não teve oposição no congresso de abril. Mas há três dias, em declarações ao Observador, mostrou desapego: "Não estou agarrado ao meu lugar. Se o PSD achar que há outro líder melhor, façam favor, não fico zangado."