Instabilidade política e desempenho da economia são as principais razões para a perda de três posições. Instituto IMD deixa cinco desafios para a economia portuguesa
Portugal está menos competitivo. Depois de duas subidas consecutivas, o país perdeu três posições no ranking de 2016 divulgado ontem pelo IMD, tendo sido ultrapassado por Espanha e Itália.
O pior desempenho da economia, sobretudo no comércio internacional, e a redução da eficácia do governo, num ano marcado por eleições, são apontados como os dois principais fatores para Portugal ter recuado da 36.ª posição para a 39.ª.
"Há uma maior perceção de risco de instabilidade política", alerta José Caballero, economista sénior do instituto IMD, escola de negócios da Suíça que publica desde 1989 o relatório de competitividade.
Filipe Garcia, economista da IMF, concorda e defende que "tem havido maior imprevisibilidade política, para o bem e para o mal", desde que o governo de António Costa assumiu funções, no final de novembro de 2015.
O ranking deste ano teve em conta 342 critérios em 61 países para avaliar a capacidade de os Estados "criarem ou manterem um ambiente que suporte a competitividade para as empresas".
O instituto suíço IMD, que colocou Portugal atrás de países como Chile, Letónia e Turquia, deixou também cinco desafios para 2016: manutenção da redução do défice público e da dívida pública; promoção de um sistema bancário saudável e bem capitalizado; atração e retenção do investimento estrangeiro, particularmente através da estabilidade fiscal; melhoria das qualificações e promoção de reformas no mercado de trabalho que favoreçam o mérito e a flexibilidade; e maior competitividade e manutenção sustentável de uma balança comercial excedentária.
"São pontos essenciais para a economia portuguesa", concorda Filipe Garcia. O economista da IMF assinala três ameaças para a competitividade do país. A questão fiscal é uma das incertezas, dado que, num contexto de baixo crescimento, o governo "poderá ser forçado a aumentar os impostos"; o facto de o "sistema financeiro português não estar ainda resolvido, tendo em conta que os bancos ainda não terão reconhecido todas as imparidades"; e o "maior intervencionismo do Estado" na economia, que, por uma questão ideológica", acaba por gerar mais incerteza, tendo em conta que "há mais decisões ligadas à política do que ao mercado".
O economista José Caballero considera que a resposta aos desafios não depende apenas do governo português, mas "o executivo "tem de gerir fatores importantes e fortalecer parcerias entre o setor público e o setor privado". O especialista do IMD nota também que "a chave para alcançar e manter competitividade está em encontrar o equilíbrio entre as decisões estratégicas urgentes a curto prazo e a longo prazo".
Hong Kong ultrapassa EUA
No ranking geral, destaque para o novo líder. Hong Kong ultrapassou os Estados Unidos, que passaram para o último lugar do pódio. A Suíça subiu dois lugares, está em segundo.
"Os EUA continuam a ter o melhor desempenho económico do mundo, mas há outros fatores a ter em conta quando estamos a falar de competitividade", assinala Arturo Bris, responsável pelo centro de competitividade mundial do IMD.
Esta situação faz que o Qatar e a China, duas das novas potências económicas, estejam nos lugares 13 e 25, respetivamente. "Os dois países têm um desempenho muito bom a nível económico, mas permanecem muito fracos em áreas como a eficiência governamental e as infraestruturas", assinala Bris.
A Irlanda é outro dos países que mais se destacam na tabela da competitividade, após ter subido nove lugares, reentrando no top 10 e assegurando a liderança na zona euro. Está à frente da Holanda, do Luxemburgo e da Alemanha dois anos após o fim do resgate da troika.