Sérgio Sousa Pinto e Francisco Assis tencionam ir à reunião máxima dos socialistas, que decorrerá de 3 a 5 de junho na FIL do Parque das Nações, em Lisboa.
Francisco Assis, o primeiro dirigente socialista a dizer em público que António Costa estava a esquerdizar o PS para lá de limites aceitáveis - muito antes de o líder socialista assinar acordos com o BE, o PCP e o PEV - quer explicar as suas razões. Mas só o fará se quem estiver a dirigir os trabalhos lhe der condições que considere condignas - ou seja, não falará se o seu discurso for escalonado para horas muito tardias.
O mesmo - confirmou o DN - fará outro grande crítico do rumo decidido pela atual direção, Sérgio Sousa Pinto, que chegou a integrar a direção de Costa mas depois a deixou, quando percebeu que o líder do partido se estava a preparar para negociar acordos de governação com os partidos parlamentares à esquerda do PS. "Tenciono falar se tiver condições", disse ontem Sousa Pinto ao DN, querendo com isso dizer que não aceitará que uma sua intervenção seja atirada para horas tardias, como aconteceu com Assis no congresso do PS que consagrou a liderança partidária de Costa (semanas antes tinha sido eleito secretário-geral nas primárias, vencendo António José Seguro), em novembro de 2014.
Nessa ocasião, a condução dos trabalhos, a cargo de Carlos César, remeteu o discurso que Assis queria fazer para uma hora que não lhe pareceu digna, tendo o eurodeputado abandonado os trabalhos a meio. Em rutura como o rumo político que Costa estava a dar ao PS, Assis recusou também integrar qualquer órgão político do partido. Desde então é "apenas" eurodeputado (encabeçou a lista do PS que venceu as europeias de junho de 2014 - a última eleição que o PS venceu. Há algumas semanas deixou um espaço semanal de debate político semanal em que participava na TVI 24 por não querer que as suas posições políticas fossem sempre analisadas em função das posições do governo ou das posições oficiais do PS. Dito de outra forma: não queria estar para o PS como Pacheco Pereira está há anos para o PSD. Assis irá ao congresso na qualidade de delegado inerente pelas funções que ocupa no Parlamento Europeu.
A rutura de Sousa Pinto com Costa foi posterior à de Assis, cerca de um ano depois (outubro do ano passado), quando percebeu que António Costa se preparava mesmo para negociar com o BE, o PCP e o PEV aquilo que é hoje vulgarmente conhecido como a "geringonça". O seu ponto de crítica em relação ao secretário-geral é não só a esquerdização do partido como também - e este aspeto não é menor - o facto de Costa ter formado governo sem ganhar as eleições (o problema da legitimidade política): "Quando no PS se estabeleceu a doutrina de que não há nenhuma razão para que o PS não mantenha um diálogo construtivo à esquerda, o que sempre se pretendeu dizer é que se o PS falhasse a maioria absoluta deveria conversar com os outros parceiros da esquerda. O que nunca se discutiu foi a possibilidade de o PS falhar a própria maioria relativa e formar um governo com o apoio dos partidos de esquerda, numa situação de enorme precariedade e de débil legitimidade", disse recentemente, numa entrevista ao JN.
No seu entender, "o líder do partido mais votado deve ser primeiro-ministro" - ou seja, o atual primeiro-ministro deveria ser Passos Coelho. Além do mais, "ao contrário da coligação de direita, do BE e do PCP, o PS saiu profundamente derrotado das eleições", sendo portanto "questionável que se tenha constituído uma solução política no vértice da qual está o PS".
Ontem, António Costa apresentou aos militantes do PS de Lisboa a moção que irá levar a votos no congresso. No texto, sem porém os nomear, Costa responde a críticos como Assis ou Sousa Pinto: "Para os tradicionais adeptos do pessimismo militante, que tanto desdenharam da solução encontrada a ponto de questionar até a sua legitimidade democrática, a confirmação da viabilidade política da solução governativa apoiada pela esquerda e esta sucessão de "provas superadas" pelo governo constituem uma evidente derrota." E é dito que "o adversário principal da esquerda socialista [...] não são as forças à sua esquerda [mas sim] o forte desvio neoliberal do centro-direita conservador".