Marcelo e Costa acertaram plano para a banca. Sociais democratas atacam a intervenção
O futuro da banca nacional foi alvo central de um "acordo" estratégico entre o Presidente da República, o Primeiro-Ministro, o Governador do Banco de Portugal e o Ministro das Finanças. Há um mês (15 e 16 de fevereiro), no espaço de 24 horas, Marcelo Rebelo de Sousa, ainda como chefe de Estado eleito, recebeu no Palácio de Queluz António Costa, Carlos Costa e Mário Centeno. Nesses encontros houve, pelo menos um tema comum: a situação do sistema bancário nacional e o risco de ser dominada pelo capital de outro país, no caso a Espanha, através da entrada no BPI, BCP e Novo Banco.
Fonte que acompanhou o processo, confidenciou ao DN que nesse espaço de horas, o Presidente da República eleito, o Primeiro-Ministro, o Governador do Banco de Portugal e o Ministro das Finanças acertaram um acordo de intervenção política que tem dado os seus sinais nos últimos dias. Objetivo: sem interferir diretamente com os acionistas privados, era necessário produzir orientações de visão a longo prazo para travar a concentração da banca num único país estrangeiro, ajudando a encontrar soluções para as necessárias recapitalizações.
As declarações de Marcelo Rebelo de Sousa, no âmbito do encontro com o rei de Espanha, na última quinta-feira, deram disso eco público. "É importante haver uma participação significativa, o que é diferente de haver um exclusivo. É uma posição de fundo. Nenhuma economia deve ter uma posição exclusiva sobre outra economia", declarou, assumindo o que tinha sido acordado em Queluz.
O ex-presidente do PSD e comentador político, Luís Marques Mendes, aplaude a atitude. "A soberania política também exige uma soberania financeira e é muito positivo que o Presidente da República tivesse dado importância a este assunto e se empenhasse e juntar as várias partes para tentarem encontrar soluções. É muito positivo que exista uma estratégia concertada entre o chefe de Estado, o governo e o Banco de Portugal, com o objetivo de garantir o equilíbrio ao nível acionista na banca", assinala.
Este sábado, António Costa explicou porque, também nesta matéria, é diferente do seu antecessor Pedro Passos Coelho. "O Governo PSD/CDS quis enganar os portugueses " escondendo "debaixo da mesa o estado em que se encontrava o sistema financeiro", enquanto o PS não "esconde nada, nem vira a cara a resolver os problemas que necessitam ser resolvidos, como aconteceu com o Banif, o BPI ou o Novo Banco", sublinhou.
Estas declarações serviram que nem uma luva para responder, indiretamente, ao PSD, que numa "carta aberta" divulgada momentos antes tinha questionado e atacado firmemente as alegadas interferências de Costa na banca privada, noticiadas pelo Expresso deste sábado. O semanário escrevia que o primeiro-ministro tinha pessoalmente interferido na redefinição da estrutura acionista do BCP, reunindo com a empresária angolana Isabel dos Santos e, alegadamente, "autorizando" a sua entrada no capital do banco, evitando com isso o potencial predomínio dos espanhóis do la Caixa.
A proatividade de Costa, em sintonia com Marcelo, elogiada pelo ex-líder social-democrata, não é, porém, apreciada por Passos Coelho, cuja direção lançou um violento ataque à nova dinâmica, exigindo esclarecimentos sobre a notícia. "O que aqui está em causa, a ser verdade, é demasiado grave. A que título, com base em que poder, interveio ou participou, como negociante, nas relações entre acionistas privados e bancos privados?", salientou Leitão Amaro, numa conferência de imprensa na sede do partido. Na carta, com oito perguntas, o PSD chega a comparar Costa com José Sócrates, recordando o resultado "extremamente lesivo" que teve a "intervenção" daquele ex-governante "na gestão e nos negócios privados, em particular em bancos nacionais e grandes empresas de telecomunicações, como o BCP e a PT ".
O economista Jorge Marrão, do think thank Missão Crescimento, onde se debatem propostas para atrair investimento para o nosso país, lembra que "há uma linha muito ténue entre uma estratégia de longo prazo e a não interferência em negócios privados" e compreende a "intervenção política". "Não estamos a falar só de mercados. É toda uma nação que está em causa. Por isso percebe-se a cautela dos poderes políticos em relação aos novos atores", assevera.