Comida estragada, lixo acumulado no chão e bacias com urina e fezes. É nestas condições que vivem uma idosa, de 85 anos, a filha, acamada no sofá da sala, e o filho, esquizofrénico, numa casa precária, em Olhão, no Algarve.
Ontem, a mulher mais nova foi mordida por ratos e levada para o hospital, onde já estava internada a mãe, há dois dias, pelos mesmos motivos.
A família está sinalizada pela Segurança Social desde 2014, embora os vizinhos garantam que a situação já se arrasta há, pelo menos, quatro anos. Autarquia, PSP e delegado de Saúde também já tinham conhecimento do caso, que foi comunicado ao Ministério Público, devido à recusa da família em ser ajudada.
No domingo, os gritos e pedidos de ajuda vindos do número 13 da Rua da Liberdade alertaram os vizinhos. Cátia Batista, que cuida regularmente da família, encontrou a mulher mais velha com várias marcas de dentadas de ratos. "Estava cheia de dores, não conseguia andar e tinha os pés inchados do tamanho de bolas de futebol", descreveu. Perante a gravidade dos ferimentos, a idosa foi levada de ambulância para a unidade de Faro do Centro Hospitalar do Algarve, onde ainda estava internada, em observações, ao final do dia de ontem.
Em casa permaneceram os dois irmãos e foi Cátia quem assumiu a higiene da mulher, de 65 anos, acamada no sofá da sala. "Tive de usar máscaras e luvas. Cheirava muito mal, havia pulgas e ratos a correrem pela casa. São enormes, parecem coelhos", acrescentou a vizinha. Ontem, mais duas ambulâncias foram chamadas ao local. A primeira, a meio da manhã, para levar a mulher para o hospital, também por ferimentos provocados pelos ratos. Mais tarde, uma outra para levar o homem, de 51 anos, que sofre de esquizofrenia, e que saiu de casa pelo próprio pé depois de falar com a PSP. Apesar das várias tentativas, não foi possível apurar se ficou internado.
Os vizinhos temem agora que a situação se mantenha quando a família regressar a casa e asseguram que a idosa tem mostrado sinais de perturbações mentais. "Por vezes anda na rua com as calças para baixo, sem roupa interior, e perde-se com frequência", garantiu Filomena Nunes.
Segundo fonte da Autarquia de Olhão, a dona da casa, professora reformada, sempre recusou ser ajudada e uma eventual limpeza do espaço só poderá acontecer com ordem do Ministério Público e do delegado de Saúde.