Os mais pequenos percebem mais do que se imagina sobre as relações entre os adultos.
Antes de começarem a falar os bebés podem conseguir discernir se uma determinada pessoa é ou não amiga. Esta é a conclusão de um estudo publicado pelo Journal of Experimental Psychology: General.
Nesta investigação, 64 bebés de nove meses foram divididos aleatoriamente em grupos. Eles observaram vídeos que mostravam o comportamento de dois adultos enquanto comiam e as reações positivas ou negativas de cada um deles frente à comida. Em alguns casos, os adultos partilhavam as mesmas reações, outros não.
Uma das autoras do estudo explicou que foram apresentadas cenas com comida aos bebés porque os alimentos podem fornecer informações sociais importantes. "Fazer as refeições com parentes e amigos é uma ação social e, por isso, os bebés podem ser propensos a usar os comportamentos observados nesses momentos para tirar conclusões sobre as relações sociais."
Para investigar se os bebés relacionavam as reações à comida com as relações sociais, a pesquisa analisou a forma como eles respondiam aos vídeos que mostravam os mesmos adultos (que antes estavam a comer) a agir de maneira positiva ou negativa entre si.
No vídeo com a interação positiva, eles sorriam e cumprimentavam-se com um "oi" em tom de voz amigável. No segundo vídeo, os adultos viravam as costas um ao outro, cruzavam os braços e faziam um som de desagrado.
Os investigadores avaliaram as reações das crianças a esses vídeos e mediram o tempo que elas olhavam para a cena no fim de cada vídeo.
As respostas dos bebés aos vídeos indicaram que eles ficaram surpreendidos ao perceber que dois adultos que gostavam dos mesmos alimentos podiam comportar-se de forma negativa entre si, e também quando os adultos que não tinham a mesma opinião sobre a comida se comportavam como amigos. Isso significa que as crianças já sabiam que, quando duas pessoas concordam em alguma coisa, elas tendem a agir de forma amigável mesmo em outras situações. Elas previam que pessoas que reagiam de forma parecida à comida tinham mais probabilidade de serem amigas, e por isso acharam estranho quando se passou o contrário.
Os resultados forneceram as primeiras evidências de que as raízes de um aspeto crítico da cognição social, o raciocínio sobre as interações sociais de outras pessoas com base nos seus gostos, vêm desde a primeira infância. Em estudos futuros, as autoras pretendem analisar que outras situações ajudam as crianças a entender as relações sociais.