Franceses criam coração artificial com tecido de bovino
Está criado o primeiro coração artificial regulado por sensores, software e microeletrónica, que incorpora tecido de bovino em todos os componentes em contacto com o sangue.
O primeiro coração artificial que usa materiais derivados de tecidos de bovinos em todas as superfícies que estão em contacto com o sangue foi criado pela empresa francesa Carmat, com sede em Paris.
Até agora, o tecido de bovinos só tinha sido usado pela medicina nas válvulas artificiais do coração colocadas em doentes com insuficiência cardíaca.
Nos corações artificiais antes concebidos, destinados a dar resposta à falta de órgãos para transplante, o sangue passa por materiais artificiais como plástico, o que pode provocar problemas de coagulação.
O tecido de bovino foi retirado pelos cientistas franceses da bolsa pericárdica que envolve o coração dos animais e foi quimicamente tratado de modo a ficar estéril e biologicamente inerte, revela o jornal "The New York Times".
Tecnologia aeroespacial
O design e o desenvolvimento do aparelho baseou-se em grande parte na tecnologia da EADS, a maior empresa aeroespacial europeia, que tem dado apoio à Carmat.
O aparelho criado pela empresa francesa demorou 15 anos a ser desenvolvido, vai ser em breve testado em doentes e é regulado por sensores, software e microeletrónica, alimentados por energia proveniente de duas baterias externas de iões de lítio (iões são átomos ou moléculas com carga eléctrica).
A Bélgica, Polónia, Eslovénia e Arábia Saudita já aprovaram o uso do aparelho para testes clínicos em centros de cirurgia cardíaca, "mas em França as entidades reguladoras exigiram primeiro mais testes em animais", afirmou Piet Jansen.
150 mil euros por aparelho
O diretor médico da Carmat espera que o novo coração artificial esteja disponível no mercado no final de 2014, estimando o seu custo em cerca de 150 mil euros.
Joseph Rogers, professor da Universidade de Duke (Durham, EUA), sublinha por sua vez que "a forma como os cientistas franceses incorporam superfícies biológicas em qualquer zona do aparelho que entra em contacto com o sangue é uma grande vantagem". E pode "reduzir a necessidade de anticoagulantes".
O coração artificial criado pela Carmat tem duas câmaras, cada uma delas dividida por uma membrana, que tem tecido de bovino num dos lados - o que está em contacto com o sangue - e poliuretano no outro, que está em contacto com o sistema de bombagem de motores e fluidos hidráulicos que mudam a forma da membrana.
O movimento da membrana faz circular o sangue pelo corpo do doente e a parte electrónica e de software ajusta o fluxo de sangue. As baterias de iões de lítio são colocadas numa bolsa debaixo do braço ou num cinto.
Cantinho Satkeys
