A deputada Mariana Mortágua, do BE, revelou que o gabinete do presidente da República foi informado, por e-mail, sobre a possibilidade de antecipação do voo de regresso da viagem oficial que Marcelo Rebelo de Sousa fez a Moçambique. O pedido partiu da agência de viagens que organizou a referida deslocação do chefe de Estado, afirmou a bloquista.
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"Recebemos mais informações sobre a agência de viagens que organizou o voo do presidente da República para Moçambique, que confirmam que a iniciativa de pedido da alteração do voo partiu da agência de viagens", afirmou Mariana Mortágua, divulgando a informação obtida pelos deputados que integram a comissão parlamentar de inquérito à TAP.
Segundo a parlamentar, "nesse mesmo dia, a agência de viagens deu conta dessas diligências ao gabinete da Presidência", via e-mail. Belém foi, portanto, informada do contacto feito pela agência junto da administração da TAP. O objetivo, acrescentou Mariana Mortágua, era "aferir da possibilidade de alterações do voo", com o argumento de que "tal já tinha acontecido no passado".
Numa conferência de imprensa no Parlamento, a deputada relatou também que, no mesmo e-mail enviado à Presidência, a agência de viagens juntou a informação dos "voos regulares a que o presidente da República poderá recorrer". A resposta de Belém chegaria no dia seguinte.
Segundo Mortágua, a Presidência "agradece a informação dada, diz que a hipótese preferencial parece ser um dos voos regulares e que essa informação foi indicada a um superior". Além disso, refere que "a hipótese preferencial será um dos voos regulares que foram dados no e-mail", informou a parlamentar, frisando que não existe "nenhuma outra evidência de contactos subsequentes" sobre o tema.
Recorde-se que, durante a audição da CEO da TAP na comissão de inquérito, ficou a saber-se que o ex-secretário de Estado das Infraestruturas, Hugo Mendes, tinha solicitado a Christine Ourmières-Widener que alterasse um voo vindo de Moçambique para agradar a Marcelo. Na altura, quando questionado, o chefe de Estado negou qualquer envolvimento, respondendo que "só um político muito estúpido" pediria tal coisa.
Governo só pediu apoio jurídico após demitir CEO
Mariana Mortágua revelou que os ministros das Finanças e das Infraestruturas "recorreram ao gabinete de apoio jurídico" do Governo no processo de demissão da administração da TAP. No entanto, sublinhou que há "apenas um problema": o processo "foi iniciado no dia seguinte à conferência de imprensa" em que a CEO e o 'chairman' da empresa foram demitidos.
A candidata à liderança do BE considerou que a demissão foi "precipitada por conflitos internos dentro do PS". Ainda assim, argumentou que os moldes do processo "nada dizem sobre a robustez" da decisão de afastar Christine Ourmières-Widener e Manuel Beja.
Outro dos documentos tornados públicos pela bloquista foi um 'print screen' de uma mensagem enviada por Whatsapp pelo ministro das Infraestruturas, João Galamba, a um adjunto. Nela, o governante perguntava se a CEO iria participar na reunião de janeiro com o grupo parlamentar do PS, dizendo ao seu adjunto que Christine Ourmières-Widener "tinha pedido para participar".
O 'print screen' de que a comissão de inquérito agora dispõe parece confirmar a versão do ministro - que, quando estalou a polémica sobre a reunião da CEO com deputados do PS, garantiu que teria sido esta, e não os parlamentares socialistas, a solicitar o encontro. No entanto, sem mais informações, é impossível confirmar se Galamba dizia a verdade, uma vez que, diz Mariana Mortágua, não existe "evidência do pedido da CEO"