O presidente da Assembleia da República e ex-ministro da Defesa, Augusto Santos Silva, defendeu, esta terça-feira, que problemas de operacionalidade ou disciplina nas Forças Armadas devem ser discutidas em local próprio e pelas pessoas adequadas, "que são os chefes militares".
O antigo ministro da Defesa Nacional (2009-2011) e dos Negócios Estrangeiros (2015-2019) falava na abertura do seminário "Os Desafios para a Segurança e Defesa Nacional", organizado pelo Grupo de Reflexão Estratégica Independente (GREI), que reúne vários antigos chefes militares, no Centro Cultural de Belém, em Lisboa.
Numa intervenção de cerca de meia hora, Augusto Santos Silva deixou uma reflexão "puramente pessoal" aos presentes, entre os quais se incluía o antigo Presidente da República Ramalho Eanes, bem como vários antigos chefes militares, entidades e personalidades da Defesa Nacional.
"Há problemas que existem e que nós não discutimos em público, que discutimos nos locais próprios, das formas próprias", afirmou.
Santos Silva realçou a existência de um "ambiente externo que não é necessariamente sempre amigável, que muitas vezes é um ambiente hostil", no qual "a informação que recebemos e a informação que permitimos que circule é um recurso essencial".
"Há muitos problemas que temos, que devemos tratar com sentido de Estado, com a discrição e com a consciência plena de que, vivendo em ambientes em que as ameaças são muitas, não devemos ser ingénuos. As questões de operacionalidade, de coesão, de disciplina são tratadas no local próprio e pelas pessoas próprias. E as pessoas próprias para tratar delas são os chefes militares. E eles sabem como tratá-las", argumentou.
Na sua intervenção o presidente do parlamento realçou o "papel-chave" da Assembleia da República em matérias relacionadas com a Defesa Nacional, salientando que pela primeira vez os deputados vão aprovar as Grandes Opções do Conceito Estratégico de Defesa, que caberá depois ao Governo 'fechar'.
Santos Silva defendeu ainda que a sociedade portuguesa não tem um problema de legitimidade das Forças Armadas, compreendendo a sua relevância, mas que o mesmo não acontece no que diz respeito à Defesa Nacional no seu conjunto, apelando a uma maior "pedagogia cívica".
"Não temos nenhum problema em Portugal de legitimidade das Forças Armadas junto do nosso povo, mas temos ainda trabalho a fazer para que as populações vejam as Forças Armadas como a componente essencial de um sistema que é de todos e de uma tarefa que é de todos e não apenas dos militares, da Ministra e da estrutura de comando das Forças Armadas", sustentou.
Entre as prioridades que devem ocupar o debate em torno da Defesa e das Forças Armadas, Santos Silva destacou o recrutamento e carreira como elementos "absolutamente urgentes e essenciais".
O antigo tutelar da Defesa elogiou igualmente o papel das Forças Nacionais Destacadas, dizendo que estas são reconhecidas a nível internacional pelo seu "profissionalismo e dedicação singulares".