Um alto funcionário ucraniano admitiu que a Ucrânia poderá negociar com a Rússia um futuro estatuto para a Crimeia se conseguir libertar as regiões até à fronteira com a península, motivando clarificações das autoridades de Kiev.
A possibilidade de uma negociação sobre a Crimeia foi referida pelo chefe-adjunto do gabinete presidencial ucraniano, Andriy Sybiha, em entrevista ao jornal britânico Financial Times (FT).
"Se conseguirmos alcançar os nossos objetivos estratégicos no campo de batalha, e quando chegarmos à fronteira administrativa com a Crimeia, estamos prontos a abrir uma página diplomática para abordar esta questão", disse Sybiha.
Mas "isto não significa que excluamos a libertação [da Crimeia] pelo nosso exército" como parte da contraofensiva que as tropas ucranianas estão a planear para as próximas semanas ou meses, ressalvou, segundo a agência espanhola EFE.
Estas declarações são, na opinião do FT, um dos sinais mais explícitos dados até agora por Kiev sobre uma possível negociação sobre a Crimeia, que a Rússia anexou em 2014.
O FT, citado pela agência espanhola EFE, considerou que estes sinais poderão constituir um alívio para os aliados ocidentais da Ucrânia que se têm mostrado cautelosos quanto a uma eventual tentativa de Kiev de recuperar a península.
Até agora, Kiev excluiu publicamente conversações com Moscovo até que todas as tropas russas se tenham retirado de todo o território ucraniano, incluindo a Crimeia.
Na sequência da entrevista de Sybiha, o porta-voz presidencial ucraniano Serhii Nikiforov comentou hoje, segundo a EFE, que em questões como a da Crimeia todos se devem guiar antes de mais pelas declarações de Zelensky.
O líder ucraniano tem afirmado que a guerra na Ucrânia começou com a Crimeia e deve terminar com a libertação da península junto ao Mar Negro.
Também a enviada de Zelensky para a Crimeia, Tamila Tasheva, declarou ao jornal digital Politico que Kiev não alterou os seus planos para a devolução do território ocupado pela Rússia, incluindo a península.
"A Ucrânia escolherá a forma de trazer de volta a Crimeia, utilizando meios políticos e militares", afirmou.
Tasheva disse que "para minimizar as perdas militares ucranianas, minimizar as ameaças aos civis que vivem em territórios ocupados, bem como a destruição de infraestruturas civis, a Ucrânia planeia dar à Rússia uma escolha sobre como deixar a Crimeia".
"Se não concordarem em partir voluntariamente, a Ucrânia continuará a libertar as suas terras por meios militares", acrescentou.
O próprio Sybiha clarificou mais tarde as suas observações dizendo que as negociações sobre a Crimeia são apenas uma das opções que Kiev está a considerar, noticiou a EFE.
O plano de paz que Zelensky divulgou no final do ano passado inclui a restauração da integridade territorial da Ucrânia de acordo com a Carta das Nações Unidas.
Em setembro de 2022, o Presidente russo, Vladimir Putin, declarou que as regiões de Kherson, Zaporijia (onde se situa a maior central nuclear da Europa), Donetsk e Lugansk também passaram a fazer parte da Federação Russa.
Kiev e a generalidade da comunidade internacional não reconhecem a soberania russa nas cinco regiões ucranianas.