O presidente do PSD propôs, este domingo, a "recuperação do tempo possível" de serviço dos professores e apelou ao Governo e aos sindicatos que encontrem "um equilíbrio", defendendo que um acordo "é do interesse de todos".
"Valorizar a carreira dos professores com regras de progressão, de recuperação do tempo possível face àquilo que o país teve de viver fruto das irresponsabilidades do passado, é um desígnio também do PSD", afirmou Luís Montenegro, que discursava no encerramento do XV Congresso Nacional dos Trabalhadores Social-Democratas, em Lisboa.
RELACIONADOS
Educação. Manifestação histórica dos professores reuniu cerca de 150 mil pessoas em Lisboa
Reivindicações. Fenprof promete novas greves em março se não chegar a acordo com o Governo
Manifestação. Milhares de professores terminam caminhada de protesto junto ao Terreiro do Paço
Instado pelos jornalistas a clarificar o que quis dizer com "tempo possível", o líder do PSD não respondeu e remeteu para o debate sobre educação agendado pelo partido para a próxima semana, na Assembleia da República.
No seu discurso, Luís Montenegro considerou que o Governo é "o único que tem a responsabilidade de conduzir" a negociação com os professores, e que "essa negociação, é do interesse de todos, deve ter frutos o quanto antes, porque os prejuízos são dos professores mas os prejuízos são também dos alunos e das suas famílias". "Olhemos para a condição de um professor, olhemos para a sua desmotivação, para o facto de hoje perder tanto tempo em tarefas burocráticas e administrativas e menos em tarefas pedagógicas, olhemos para essa dificuldade que é estar muitas vezes tão longe de casa, mas também olhemos para aquele aluno que não tem aulas e que está a ficar com as suas aprendizagens para trás, e olhemos para aquela família cujos progenitores ou faltam ao trabalho ou então ficam de mãos atadas porque os filhos não têm escola", elencou.
O presidente do PSD considerou necessário "olhar para cada um" e "arranjar aqui um equilíbrio". "Eu lanço daqui esse apelo a todos: aos sindicatos, professores, aos pais e aos alunos, mas sobretudo ao Governo", afirmou Montenegro, salientando: "o Governo não pode ignorar aquilo que está a acontecer". "O ministro da Educação e sobretudo o primeiro-ministro de Portugal não podem fazer de conta que a escola em Portugal está a atravessar esta dificuldade e que isto tem consequências que vamos pagar no futuro. Nós temos de arranjar uma solução, só assim conseguimos ter a igualdade de oportunidades que nos caracteriza", salientou o social-democrata.
Esta posição do líder do PSD foi transmitida um dia após uma manifestação nacional de professores que decorreu em Lisboa e que juntou mais de 150 mil pessoas, segundo a organização. Os docentes exigem a recuperação dos seis anos, seis meses e 23 dias de serviço não contabilizados pelo Governo no âmbito do descongelamento das carreiras.
No início do ano letivo, a tutela decidiu iniciar um processo negocial para rever o modelo de contratação e colocação de professores, mas algumas propostas deixaram os professores revoltados, como foi o caso da possibilidade de os diretores poderem escolher parte da sua equipa.
As negociações entre sindicatos e ministério têm decorrido em ambiente de forte contestação, com os professores a realizarem greves e manifestações. Fora da agenda negocial, estão reivindicações que os professores dizem que não vão abandonar, tais como a recuperação do tempo de serviço ou as progressões na carreira dos docentes.
Imoralidade de trabalhadores ativos ganharem menos do que desempregados
O presidente do PSD considerou ainda imoral haver trabalhadores no ativo a ganharem menos do que desempregados e reiterou as críticas às alterações introduzidas pela Agenda para o Trabalho Digno.
"Independentemente de nós não querermos deixar ninguém para trás, o pior que podemos fazer é desincentivar aqueles que produzem, aqueles que trabalham, aqueles que têm uma oportunidade, que dão o seu esforço e que chegam ao fim do mês e têm menos rendimento do que aqueles outros que não fazem esse esforço", defendeu o líder social-democrata.
Para Montenegro, "uma sociedade justa e solidária não deixa ninguém para trás, tem de ter ajudas àqueles que têm mais dificuldades, tem de ter ajudas que sobretudo possam motivar que eles ultrapassem as dificuldades, saiam da situação de vulnerabilidade".