A França e a Austrália alcançaram um acordo para envio de obuses de 155 mm para a Ucrânia, anunciaram hoje os ministros da Defesa francês e australiano, Sébastien Lecornu e Richard Marles, respetivamente.
"Vários milhares de obuses de 155 mm serão produzidos em conjunto", disse Lecornu, enquanto Marles se referiu a um "projeto australiano multimilionário" e a uma "nova cooperação entre as indústrias de defesa australiana e francesa".
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"Isso faz parte dos esforços do apoio que a Austrália e a França estão a fornecer à Ucrânia para garantir que ela seja capaz de resistir a este conflito [com a Rússia] e encerrá-lo", disse o governante australiano.
O objetivo é atingir "uma assistência significativa, e um esforço que seja contínuo ao longo do tempo", prosseguiu, por sua vez, Sébastien Lecornu, prevendo que os primeiros envios ocorram ainda neste trimestre, sem fornecer mais detalhes.
Os ministros da Defesa estiveram reunidos com as suas colegas que tutelam os Negócios Estrangeiros, a francesa Catherine Colonna e a australiana Penny Wong, num encontro em formato 2+2 em Paris como parte de um recente relançamento da cooperação entre os dois países.
De acordo com a agência France-Presse (AFP), o relacionamento entre Paris e Camberra foi seriamente afetado pela polémica em torno do pacto trilateral de defesa assinado em 2021 entre Estados Unidos da América, Reino Unido e Austrália para a região do Indo-Pacífico, denominado AUKUS. Na altura, a Austrália cancelou um contrato de aquisição de submarinos franceses para optar pela compra de submersíveis americanos.
Os obuses de 155 mm são disparados por várias peças de artilharia ocidentais fornecidas à Ucrânia, como os canhões franceses Caesar, os americanos M777 ou os alemães Panzerhaubitze 2000.
O acordo foi alcançado quando o Instituto para o Estudo da Guerra (ISW), organização com sede em Washington, alerta na sua atualização diária do conflito na Ucrânia para a lentidão dos aliados ocidentais no fornecimento de equipamento militar à Ucrânia.
O relatório destaca "o impacto dos atrasos no envio de sistemas de armas de ponta na capacidade da Ucrânia de aproveitar as janelas de oportunidade durante esta guerra", abertas "por falhas e fracassos" nas operações militares russas.
A ofensiva militar lançada a 24 de fevereiro de 2022 pela Rússia na Ucrânia causou até agora a fuga de mais de 14 milhões de pessoas -- 6,5 milhões de deslocados internos e quase oito milhões para países europeus -, de acordo com os mais recentes dados da ONU, que classifica esta crise de refugiados como a pior na Europa desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).
Neste momento, 17,7 milhões de ucranianos precisam de ajuda humanitária e 9,3 milhões necessitam de ajuda alimentar e alojamento.
A invasão russa -- justificada pelo Presidente russo, Vladimir Putin, com a necessidade de "desnazificar" e desmilitarizar a Ucrânia para segurança da Rússia - foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que tem respondido com envio de armamento para a Ucrânia e imposição à Rússia de sanções políticas e económicas.
A ONU apresentou como confirmados desde o início da guerra 7.110 civis mortos e 11.547 feridos, sublinhando que estes números estão muito aquém dos reais.