OMinistério Público decidiu instaurar um processo de inquérito às situações relatadas no serviço de cirurgia geral no Hospital Fernando da Fonseca (conhecido como Amadora-Sintra), denunciadas em primeira mão, na passada sexta-feira, pela edição do semanário Expresso.
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Segundo explicou ao DN fonte da PGR, o processo foi instaurado para se "averiguar todas as situações relatadas nas várias notícias difundidas pela comunicação social".
Recorde-se, e conforme o DN referiu também, as situações denunciadas, as quais faziam referências a má prática médica, que poderiam ter resultado na morte e na incapacidade de mais de vinte doentes, foram denunciadas à administração do hospital em outubro de 2022 e desde essa altura que estão a ser investigadas pela unidade e por peritos do Colégio de Cirurgia Geral da Ordem dos Médicos.
Logo na sexta-feira, dia 13, quando as situações foram conhecidas a Entidade Reguladora da Saúde e a Inspeção-Geral das Atividades em Saúde também anunciaram a abertura de processos de inquérito para averiguar os factos relatados.
O ministério da Saúde veio reiterar a confiança nos cuidados prestados pela unidade, dizendo que "a tutela está em contacto com o Conselho de Administração da unidade hospitalar". A situação divulgada indica a existência de, pelo menos, 22 casos de doentes que terão "morrido" ou ficado "mutilados" devido a erros da equipa de cirurgia geral, tendo 17 dos casos ocorridos no ano passado, até outubro, e outros cinco já em novembro.
Na altura, o bastonário dos médicos considerou ao DN que "a situação descrita era muito grave e que, obviamente, merece um esclarecimento total e cabal para se perceber se os factos são ou não verdadeiros", acrescentando que "se forem as pessoas envolvidas terão de ser julgadas nos respetivas meios que existem para este tipo de situações, como o Conselho Disciplinar da Região Sul da Ordem dos Médicos, organismos da saúde e tribunais", pedindo que se acelerasse a investigação.
Fontes ligadas ao processo confirmaram ao DN que a denúncia de tais situações foi feita pelo ex-diretor do serviço de cirurgia geral ao conselho de administração do Hospital Fernando da Fonseca em outubro de 2022, um diretor de serviço que terá sido afastado pela administração em janeiro do ano passado por "há anos, e independentemente de ser um cirurgião com credenciais, muito bom tecnicamente, desenvolver uma gestão do serviço classificada por alguns de 'despotismo', que levou ao afastamento de 22 profissionais qualificados em dez anos". E terá sido depois desta substituição, que o ex-diretor, ao fim de quase dez meses de ter abandonado o cargo, decidiu denunciar a existência de má prática no serviço em casos que terão ocorrido entre janeiro e outubro", afirmaram as mesmas fontes.
Na mesma altura, foi confirmado ao DN que das situações já analisadas pela equipa do hospital que está a trabalhar com os peritos da Ordem dos Médicos só em duas foram detetadas "uma conduta que não terá sido correta, mas não de má prática. Não deveriam ter feito, embora o que foi feito não seja condenável", disseram-nos. Em relação aos casos de morte referidos pela notícia do Expresso, as mesmas fontes asseguram que estes "resultaram de doença maligna, cancros em estado terminal. Dois dos doentes foram admitidos com necrose no pâncreas, o que indica logo uma situação com 80% de possibilidade de mortalidade". Portanto, na avaliação feita até agora, de 14 das 18 situações que foram entregues até outubro de 2022, e segundo as mesmas fontes, "não há até agora evidência de más práticas". Mas até hoje nada mais se sabe do relatório final desta investigação.
Ordem ainda está a avaliar situações, faltam cinco casos
Mas até hoje nada mais se sabe do relatório final desta investigação. Ao DN, o perito que está a avaliar as situações confirmou que o relatório final ainda não está terminado. Tendo sido até agora detetadas duas situações de "conduta inadequada" e "outras duas em dúvida que ainda estão a ser avaliadas". O relatório sobre estes primeiros processos deve ficar finalizado, no entanto, "até ao final desta semana e depois ser enviado ao Conselho Nacional, disse a mesma fonte. Os restantes casos, os outros cinco denunciados pelo mesmo médico já no final de outubro e princípio de novembro, os quais totalizam as 22 situações denunciadas, ainda não começaram a ser analisadas pelo perito do Colégio de Cirurgia Geral da Ordem dos Médicos que tem os processos em mãos.