Rogério Samora morreu, esta quarta-feira, aos 62 anos, confirmou o JN junto de fonte oficial da Impresa. Era um dos artistas mais conhecidos da SIC.
O ator estava internado no hospital Amadora-Sintra, onde deu entrada, este domingo, depois do seu estado de saúde se ter agravado.
Esta segunda-feira, soube-se que tinha sido uma febre persistente a levar novamente Samora à unidade hospitalar, onde veio a falecer, precisamente por não resistir ao novo quadro clínico, apurou o JN.
Rogério Samora estava há quase 150 dias em coma, na unidade de cuidados continuados da ASFE Saúde, na freguesia da Encarnação, concelho de Mafra, para onde foi transferido em finais de setembro, sempre com um prognóstico reservado.
Antes esteve internado mais de dois meses no Amadora-Sintra, após duas paragens cardiorrespiratórias [PCR] que lhe tiraram a maioria das faculdades.
Funeral em Lisboa
O corpo do ator vai estar em câmara ardente a partir das 18 horas desta sexta-feira, na Basílica da Estrela, em Lisboa. As cerimónias fúnebres estão marcadas para o dia seguinte, a partir das 11.45 horas.
Uma carreira longa e carismática
"Na arte do entretenimento é importante que as pessoas consumam o teu trabalho. Se não, representas para quem? Para ti?", disse em entrevista Rogério Samora. No caso da sua carreira carismática, sempre teve o apoio do público e da crítica.
José Rogério dos Anjos Filipe da Conceição Samora nasceu a 28 de outubro de 1959 em Lisboa. Formou-se no Conservatório Nacional, em 1979, e viria a estrear-se profissionalmente no teatro com "A paixão segundo Pier Paolo Pasolini", na Casa da Comédia, com direção de Filipe La Féria. Uma prestação que lhe valeu, em 1981, um prémio de ator revelação.
Também com La Féria, integraria o elenco de espetáculos como "A Marquesa de Sade" de Mishima, "A Ilha do Oriente" de Mário Cláudio, ou "Eva Perón" de Copi.
Fez também várias produções no Teatro Experimental de Cascais, com Carlos Avilez, de "Hamlet" de Shakespeare a "Erros meus, má fortuna, amor ardente" de Natália Correia.
Trabalhou também com Saguenail em "A dança do Sargento Musgrave" de John Arden. Com Fernanda Lapa em "Medeia é bom rapaz" de Luís Riaza, "As Bacantes" de Eurípides e "Sétimo céu" de Caryl Churchill. Com Castro Guedes em "Quase por acaso uma mulher" de Dario Fo. Também com Luís Miguel Cintra em "Cimbelino" de Shakespeare.
Todavia, o grande público conhecia-o sobretudo como ator de televisão. Rogério Samora dizia que gostava da televisão pela rapidez emocional com que lhe pediam para responder a tudo.
Passou por mais de 50 telenovelas e séries e teve também alguns trabalhos como apresentador, em concursos, de "Queridos inimigos" (1993), a "Mano a mano" (1994) e "Número um" (1995).
Nas telenovelas, os seus trabalhos mais notados residem em "A banqueira do povo" (1993), "Mar de paixão" (2010), "Rosa fogo" (2011) e, mais recentemente, em "Nazaré" (2019).
Participou ainda em quase meia centena de longas-metragens, em filmes de realizadores como Manoel de Oliveira, José Álvaro Morais, João Mário Grilo, João Botelho, Manuel Mozos, António-Pedro Vasconcelos, Maria de Medeiros, Luís Filipe Rocha, Margarida Cardoso, José Fonseca e Costa, e Raúl Ruiz.
Com Alexandra Lencastre, co-protagonizou algumas atuações célebres. Assim foi em "98 octanas", de Fernando Lopes, realizador que também o dirigiu em "O delfim", valendo-lhe uma nomeação de Melhor Ator nos Globos de Ouro de 2003.
Samora casou-se aos 19 anos, mantendo uma relação discreta ao longo de 13 anos.
Graças a uma voz carismática, foi várias vezes chamado para dobragens de películas de animação. Pode ser ouvido, por exemplo, na versão portuguesa de "O Rei Leão", dando voz quer nos diálogos, quer nas canções do vilão Scar.
"Acho que somos apenas matéria depois de mortos e servimos apenas para os vivos matarem saudades" disse Rogério Samora em entrevista a Daniel Oliveira. Tal como a mãe e a avó, também ele faleceu "antes do prazo, antes do tempo e antes do dia".