O número de testes de antigénio (TRAg) disparou desde que o Governo repôs a gratuitidade de quatro testes por mês e alargou o programa a crianças e a recuperados de covid.
De acordo com dados avançados ao JN pelo Ministério da Saúde (MS), entre 19 de novembro (dia em que foi retomada a gratuitidade) e 8 de dezembro, foram realizados "cerca de 960 mil" testes de antigénio em farmácias e laboratórios aderentes, quando entre julho e final de setembro de 2021 "foram comparticipados um total de 450 mil TRAg". Ou seja, em apenas três semanas foram realizados mais do dobro dos testes feitos no verão.
O número destes testes, que passaram a ser obrigatórios mesmo para vacinados para participar em diversos eventos de massas, como jogos de futebol, ou ir a bares e discotecas, tem vindo a subir e, só neste período, deverão custar ao Estado perto de dez milhões de euros.
Anteontem foi o dia com mais TRAg realizados no país desde o início da pandemia, num recorde de 141 768. Este mês houve outros picos: a 3 de dezembro, dia do derby Benfica-Sporting, para o qual o público teve de apresentar teste negativo realizado nas últimas 48 horas, foram contabilizados 117 001 testes. Outro pico foi a 7 de dezembro, com 110 911 testes, dia em que o F. C. Porto defrontou o Atlético de Madrid.
Bernardo Gomes, investigador no Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto (ISPUP), diz que a este aumento não é alheio o "uso regular de incentivos ao comportamento das pessoas", que incluem, por exemplo, restringir o acesso a alguns locais se não apresentarem teste negativo. Há um "ajuste e um uso generalizado de uma ferramenta que, não sendo a melhor em termos de diagnóstico, permite descartar, com elevado grau de probabilidade, se alguém é infeccioso para terceiros", diz, sublinhando que é uma importante "ferramenta de saúde pública".
Bernardo Gomes diz que não há dados que permitam saber se a população está a fazer testes apenas quando é obrigatório, mas acredita que muitos já terão consciência que o devem fazer também para outro tipo de encontros particulares, como será o caso do Natal, ou quando têm sintomas. O investigador alerta, ainda, que é preciso "estarmos atentos à performance dos testes rápidos perante novas variantes, nomeadamente a ómicron, e saber se continuam a funcionar ou não".
Testes já custaram 4,5 milhões
A gratuitidade está prevista, para já, até 31 de dezembro. Os custos são suportados pelo Governo, que já tem uma fatura de milhões. O MS adiantou ao JN que os testes feitos entre julho e final de setembro corresponderam a uma despesa de 4,5 milhões de euros. Naquele período, "350 mil testes foram realizados em farmácias, correspondendo a um encargo financeiro de cerca de 3,5 milhões de euros e os restantes foram realizados em laboratórios, com o correspondente encargo financeiro a situar-se em quase 1 milhão de euros".
Já o apuramento dos valores neste novo período depende ainda da validação pelo Centro de Controlo e Monitorização do SNS. Pelas contas do JN, os 960 mil testes de antigénio feitos entre 19 de novembro e 8 de dezembro deverão custar cerca de 9,6 milhões, se forem pagos a 10 euros cada. Contudo, a ministra anunciou, no início do mês, o aumento da comparticipação para 15 euros, de forma a incentivar mais farmácias e laboratórios a aderir.
Números
22,6 milhões de testes (PCR + antigénio) realizados até ontem em Portugal, segundo a página que o Ministério da Saúde criou para acompanhar a covid-19.
1137 entidades, entre farmácias (866) e laboratórios (271), aderiram ao protocolo com o Estado e fazem este testes rápidos TRAg, de acordo com a listagem na página do Infarmed, a autoridade nacional do medicamento.