O antigo ministro e ex-porta-voz do PS, Paulo Pedroso, está na coordenação da campanha eleitoral de Ana Gomes à presidência da República. Ao JN, o ex-militante do PS, partido de que se desvinculou ainda antes das últimas eleições legislativas, diz que é "errado" um partido fundador da Constituição, como o PS, desvalorizar a função presidencial.
"Se o PS desvaloriza e não apela à mobilização dos cidadãos está a ver mal o equilíbrio de poder da Constituição", diz, apontando os "valores progressistas e as causas de Ana Gomes" como uma mais valia para a função presidencial, "longe do frenesim da presença quotidiana".
Paulo Pedroso não poupa nas críticas ao desempenho de Marcelo Rebelo de Sousa na presidência da República. "É amigo hoje para passar rasteira amanhã", diz, considerando que o presidente foi "completamente errante" no primeiro mandato e "não colocou, desde o primeiro dia, a questão da estabilidade de médio/longo prazo" do Governo.
Relação aos solavancos
"O presidente da República poderia ter tido um papel logo a seguir às legislativas reforçando que o sentido de voto dos portugueses foi o da continuidade da "geringonça"", disse, falando numa relação com o Governo "aos solavancos".
"Uns dias foi hiper crítico, outros dias hiper defensivo", lembrou, insistindo que a presidência da República exige "uma função mais reguladora e mais distante", que seja "um eixo de poder moderador de qualquer governo e não apenas deste".
Pedroso diz que a relação de Marcelo com Costa é feita "aos empurrões". "Passa de uma posição de grande proximidade hoje para grande distância amanhã", diz, reclamando para a função uma "clara separação entre o presidente e o Governo e não uma continuidade alternada como aquela a que temos assistido" e antecipando uma mudança de atitude num eventual segundo mandato, tal como já escreveu José Pacheco Pereira, diz.
"O professor Marcelo fez um estilo de presidência com muita selfie, muitos sorrisos e menos substância", diz, defendendo uma presidência "diferente", que se assuma como "moderadora num equilíbrio de poderes" e que não fomente a "instabilidade".
PS de fora, por razões conjunturais?
Sobre a atual indefinição do PS em matéria de presidenciais - que aponta uma decisão para outubro - lembra que "não ter um candidato próprio é um cenário completamente normal face à sua história" - já teve "todas as situações possíveis" em anteriores eleições - mas acha errado que desvalorize a função presidencial. "Os pais da Constituição não imaginariam que isso se pudesse tornar normal por uma questão meramente conjuntural", disse.
"Eu acho errado um grande partido fundador da Constituição desvalorizar a função presidencial. Se o PS desvaloriza e não apela a mobilização dos cidadãos está a ver mal o equilíbriio de poder da Constituição", disse, lembrando que nas últimas eleições (onde na área do PS se defrontaram Sampaio da Nóvoa e Maria de Belém Roseira) "não teve um candidato próprio, mas não as desvalorizou".
Pedroso diz que, ao contrário do PCP e do BE, o "PS respeita muito a função presidencial". "As eleições presidenciais não são para medir a influência de um partido na sociedade. O PS faz bem ao não aceitar entrar nesse campeonato", diz, esperamdo para ver qual será a posição oficial do partido. Para ele, Ana Gomes tem as qualidades de ter sido diplomata, mulher de causas e de valores progressistas e de não correr atrás do "freneism da presença quotidiana" para assegura um "equilíbro de poderes em Belém", assegurando uma função "mais reguladora e mais distante".