No dia em que se assinalam os 41 anos da criação do Serviço Nacional de Saúde, os bastonários da Ordem dos Médicos, da Ordem dos Enfermeiros e da Ordem dos Farmacêuticos destacam as "decisões erradas" na gestão da rede, durante a pandemia.
"Hoje é um dia de festa. Mas, desta vez, a celebração é diferente. Os 41 anos do SNS, com o País mergulhado na pandemia, são um momento de especial preocupação", escrevem num artigo conjunto publicado esta terça-feira no jornal "Público", em que lembram as "forças e oportunidades (...) adormecidas", que continuam a aguardar "pela iniciativa e coragem dos responsáveis políticos".
"Conquistámos o SNS, orgulhamo-nos dele, reconhecemos unanimemente a sua razão de ser, mas estamos a deixá-lo definhar, orçamento a orçamento, inverno atrás de inverno, não honrando a história das mulheres e dos homens que o construíram e dos profissionais de saúde que o fazem todos os dia", consideram os bastonários Miguel Guimarães, Ana Rita Cavaco e Ana Paula Martins.
No artigo de opinião, os autores lamentam que o SNS tenha sido convertido numa "máquina de guerra" e que, focado no combate à pandemia, se tenha afastado "da sua obrigação constitucional de oferecer cobertura universal a todos os portugueses", deixando "para trás milhões de consultas presenciais e episódios de urgência, outros milhões de exames complementares de diagnóstico e terapêutica, muitos milhares de cirurgias e tratamentos oncológicos..."
"Estamos agora, com grande dificuldade, a correr atrás do prejuízo. Isto quer dizer que, por decisão política, houve cidadãos que foram indevidamente secundarizados ou esquecidos, e que outros lhes terão passado à frente quando deviam ser tratados com igual prioridade", acrescentam. E salientam que, tendo a mortalidade global aumentado 10% nos meses da pandemia e não sendo o novo vírus a causa da grande maioria dos óbitos, há que "medir com rigor os efeitos daquele atropelo constitucional e assumir que houve decisões erradas". "Sem isso não podemos corrigir nada a tempo de uma segunda vaga ou de outros desafios futuros."
Mais do que elogios ou agradecimentos, "o que não abdicamos pelos nossos doentes são condições de trabalho que permitam continuar a salvar vidas e a servir com dignidade", pode ler-se. Por dever e imperativo ético, continuaremos a colaborar e a contribuir para um serviço público mais eficiente e mais justo, apesar de exangue, e para um sistema de saúde inclusivo e integrado, que trate os portugueses como estes merecem.