Mário Centeno só vai disponibilizar o relatório interno sobre a supervisão ao Banco Espírito Santo por decisão judicial.
"O Banco de Portugal (BdP) aguarda decisão judicial que aprecie e decida acerca da eventual quebra do dever legal de segredo", refere o supervisor numa nota oficial enviada ao JN/Dinheiro Vivo.
"A ser decidida essa quebra do dever legal de segredo, o BdP colaborará, de imediato, com o Tribunal, ficando, nos exatos termos dessa decisão judicial, autorizado a disponibilizar, desde logo, esse documento ao Tribunal", indica a mesma nota, não apontando que o documento siga para o Parlamento como pediu o Bloco de Esquerda (BE).
Na nota, o supervisor sublinha ainda que o relatório não é uma auditoria interna, "nem tem como objeto de análise o processo de resolução do BES".
Pouco depois de Mário Centeno ter assumido o cargo de governador, o BE insistiu no pedido que já tinha feito durante o mandato de Carlos Costa para ter acesso ao Relatório da Comissão de Avaliação das Decisões e atuação do BdP na Supervisão do BES. E tal como com Carlos Costa, teve uma nega de Mário Centeno que invocou o "dever legal de segredo".
"O Parlamento há anos que pede ao BdP esse relatório de auditoria, o Governo já pediu. O PS já disse publicamente que estava contra a decisão do antigo governador de manter a auditoria encerrada num cofre", apontou ontem a deputada Mariana Mortágua, que esperava uma nova atitude por parte do supervisor, mas o Conselho de Administração do BdP voltou a recusar divulgar o documento, considerado pelo BE uma peça-chave para perceber o que se passou no verão de 2014 com a resolução do BES.
Para o BE, este comportamento revela incongruências do agora governador Mário Centeno, que fez parte de um Governo que pediu para conhecer os resultados do relatório.
Venda à Lone Star
Ontem, Mariana Mortágua anunciou que o BE vai propor uma comissão parlamentar de inquérito à gestão do Novo Banco. O PS já disse que admite uma comissão com um objeto "amplo" de averiguação, mas só após analisar a auditoria da Deloitte.
"Não queremos repetir a comissão ao BES. Queremos que seja sobre a resolução com base no relatório interno sobre a resolução de 2014 e a decisão de venda à Lone Star", frisou a deputada.
"Procuraremos transparência, procuraremos encontrar as decisões que poderiam ter sido evitadas e também os seus responsáveis", sublinhou.A saber
A saber
Argumentos
"Terminou o ciclo do silêncio e iniciou-se o ciclo do esclarecimento", afirmou ontem o CEO do Novo Banco, garantindo que o banco não concedeu nenhum crédito "tóxico" novo após a resolução do BES e que 95% das perdas (4042 milhões de euros) são anteriores a 2014.
Apoio dos partidos
O BE está confiante que a criação da comissão de inquérito ao Novo Banco seja aprovada na Assembleia da República. "Existe uma larga maioria - até no país - que quer saber o que se passou e perceber o que poderia ser evitado", declarou a deputada Mariana Mortágua.