A autoridade para fazer auditorias a lares é exclusivamente do Governo, defendeu esta terça-feira o presidente das Misericórdias, criticando a auditoria "de moto-próprio" da Ordem dos Médicos em Reguengos de Monsaraz, e deixando rasgados elogios à ministra da tutela.
"Como diz o nosso povo: Cada macaco no seu galho. Não faz sentido que uma instituição qualquer - ainda que seja a Ordem dos Médicos, que não é uma instituição qualquer --, vá para dentro de um lar, onde não é obrigatório ter médicos, fazer uma auditoria", disse à Lusa o presidente da UMP, Manuel Lemos, a propósito do caso do Lar de Reguengos de Monsaraz, que registou um surto de covid-19 que já infetou 162 pessoas, maioritariamente utentes e funcionários, e vitimou 18 pessoas, entre as quais 16 utentes, uma funcionária do lar e um homem da comunidade.
Manuel Lemos defendeu que só por iniciativa do Ministério do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social (MTSSS) e a pedido deste é que a Ordem dos Médicos poderia ter sido chamada a fazer uma auditoria ao lar de Reguengos de Monsaraz, dizendo ainda que os problemas clínicos apontados ao acompanhamento dos utentes resultam da ausência de visitas de médicos ao lar, cujos utentes estão sob a alçada do Serviço Nacional de Saúde (SNS), pelo que seria responsabilidade dos centros de saúde garantir a ida de médicos ao local.
Em declarações à RTP, o presidente da Administração Regional de Saúde (ARS) do Alentejo confirmou a informação constante no relatório da Ordem dos Médicos de que os clínicos teriam sido ameaçados com um processo disciplinar por se recusarem a trabalhar no lar invocando falta de condições.
Já esta terça-feira, em carta enviada ao primeiro-ministro e divulgada publicamente, o Sindicato Independente dos Médicos (SIM) disse que os médicos convocados pelas hierarquias para trabalhar no lar de Reguengos de Monsaraz não se furtaram ao cumprimento de quaisquer deveres, "antes os honraram".
Numa mensagem dirigida ao primeiro-ministro, o secretário-geral do SIM, Jorge Roque da Cunha, adianta que a convocação administrativa realizada pelas hierarquias "sob uma muito alta pressão coativa" configura grave exemplo de assédio moral e que estes não se recusaram a ver doentes.
Os médicos, adiantou, "que reiteradamente denunciaram, por intermédio das associações profissionais que os representam, os atropelos, desde logo omissivos, que os sistemas de assistência e solidariedade social e de saúde revelaram, não atuaram levianamente".
Manuel Lemos disse que não é por ser uma auditoria da Ordem dos Médicos que o relatório produzido "deve ser tomado como bom", sublinhando as críticas à autora do documento e as dúvidas levantadas pelo presidente da ARS Alentejo sobre a metodologia usada. E insistiu na falta de legitimidade da Ordem dos Médicos para fazer uma auditoria a um lar.
"Quem é que pode fazer auditoria nos lares? Só a tutela. Isto é uma coisa de moto-próprio. Estamos todos a entrar num delírio que é total e absoluto", disse.