Termina esta segunda-feira o prazo para a desocupação voluntária do Edifício Jardim, em Viana do Castelo. Alguns moradores permanecem no imóvel.
"Segunda-feira (hoje) vou ocupar o meu apartamento. Quero ser desalojado à força." Palavras de Ronald Silley, proprietário de um T3 no Edifício Jardim (prédio Coutinho) em Viana do Castelo, mas que vive em Lisboa. Por estar em "total desacordo" com a erradicação do imóvel, Ronald tem feito de tudo para contestar a operação prevista no âmbito do programa Polis desde o ano 2000. Esta segunda-feira, quer estar presente, quando for executado o eventual despejo forçado da última dúzia dos 300 moradores que há 19 anos habitavam o célebre imóvel de 13 andares, implantado no centro histórico.
"Considerem-se notificados cada um dos ocupantes das identificadas frações, de que caso não as desocupem e entreguem as correspondentes chaves até às nove horas do dia 24 de junho de 2019 nas instalações da VianaPolis, a desocupação será executada com recurso, se necessário, às autoridades policiais competentes", lê-se num edital de "notificação da execução da ordem de desocupação" de 33 frações, que ontem continuava afixado nas entradas do edifício.
"Dia de luta"
Fonte da PSP de Viana do Castelo confirmou ao JN que estará no local. "Foi solicitada a nossa presença para dirimir alguns conflitos de ordem pública que possam ocorrer", adiantou.
Este último prazo foi fixado pelo sociedade gestora do programa Polis em Viana do Castelo, após indeferimento por parte do Tribunal Administrativos e Fiscal de Braga (TAFB) de providências cautelares apresentadas pelos moradores que ainda resistem à saída.
O JN tentou ao longo dos últimos dias contactar, sem êxito, tanto o responsável da VianaPolis, como o advogados dos habitantes.
"Dissemos ao advogado para continuar a lutar, mas não sabemos o que vai acontecer. Só na segunda-feira é que se vai ver. Eles querem que a gente vá entregar a chave às 9 horas, mas nós não vamos", diz Fernanda Rocha, ex-emigrante em França, que vive com o marido no 2.º direito do Bloco Poente. Garantiu que, tal como ela, outros moradores continuam no prédio: "Penso que não sai nenhum. Está tudo preparado. Vai ser um dia de luta. Estamos à espera para ver o que isto vai dar".
Futuro Mercado Municipal
No lugar do prédio nascerá o futuro Mercado Municipal da cidade. Para Ronald Silley, reside aí o motivo da sua luta. "O Governo não se portou como pessoa de bem. Devia ter dito: queremos demolir o prédio porque é alto demais e não que precisa da parcela para construir o mercado. Isto foi um esquema que engendraram."
CONSTRUTOR
Fernando Coutinho resistiu até morrer
Fernando Coutinho, construtor do prédio, falecido em 2010, dizia muitas vezes: "Da minha casa só saio para o cemitério".
Herdeiros esvaziam frações
O construtor possuía 20 frações no prédio. Os seus herdeiros terão esvaziado as suas propriedades, possivelmente para entregar chaves.
UMA HISTÓRIA COM QUASE VINTE ANOS
2000 - Governo e Câmara anunciam intenção de demolir o Edifício Jardim, no âmbito do Programa Polis.
2005 - Emitida pelo Governo a Declaração de Utilidade Pública para expropriação e demolição do prédio
2009 - Quando se iniciou o processo, e a luta contra a demolição, viviam no imóvel cerca de 300 pessoas. Grande parte saiu até 2009.
2010 - Ano de falecimento do construtor do prédio, o ex-emigrante no Congo Belga Fernando Coutinho.
2017 - Adjudicada à empresa DST, por 1,2 milhões de euros, a desconstrução do prédio (em detrimento da implosão).