Um movimento de polícias que terá o apoio de cerca de 15 mil agentes pediu, segunda-feira à noite, a demissão do Ministro da Administração Interna, Eduardo Cabrita.
O Movimento Zero, que foi criado em reação à recente condenação de oito agentes da PSP por violência exercida sobre moradores do bairro da Cova da Moura, pediu, esta segunda-feira, a demissão do ministro da Administração Interna, sustentando que Eduardo Cabrita "mentiu aos portugueses" quando negou que haja cada vez mais elementos das forças de segurança feridos em serviço.
"Tenha vergonha e demita-se ou, em sua honra, os cerca de 15 mil homens e mulheres da PSP e GNR vão parar o País", ameaça o "2º Manifesto do Movimento Zero", um documento com a forma de carta aberta que se dirige diretamente à pessoa do ministro da Administração Interna, Eduardo Cabrita.
O manifesto foi enviado ao JN, esta segunda-feira à noite, pelo advogado Ricardo Serrano Vieira, que tem defendido elementos das forças de segurança em vários processos mediáticos.
Depois de se apresentar ao ministro, informando-o de que "foi criado há cerca de três semanas e conta já com o apoio formal de 14250 elementos da PSP e da GNR com funções policiais", o Movimento Zero procura desmontar uma declaração proferida por Eduardo Cabrita, no último domingo, durante a inauguração do quartel dos Bombeiros Voluntários de Vialonga: "Não há cada vez mais [elementos das Forças de Segurança agredidos]", declarou o ministro, depois de, na véspera, dois militares da GNR terem sido atingidos por disparos de arma de fogo, no contexto de uma ação de fiscalização de trânsito, em Coimbra.
O 2º Manifesto do Movimento Zero começa por lembrar o Relatório Anual de Segurança Interna (RASI) de 2017, que registou, no quadro de resultados da intervenção das Forças e Serviços de Segurança, um óbito, quatro feridos com internamento e 265 feridos ligeiros. Depois, faz a comparação com o do ano seguinte: "No RASI de 2018, na sua página 158, registou-se seis feridos com internamento e 1159 feridos ligeiros", reporta o Movimento Zero, para sustentar que, perante tal aumento, o ministro não podia ter dito o que disse.
Tanto mais, observou, que os referidos relatórios são "aprovados em Conselho Superior de Segurança Interna", sendo o ministro da administração Interna membro desse órgão e quem envia cada RASI para a Assembleia da República.
Ainda no domingo, em Vialonga, o sucessor da ex-ministra Constança Urbano de Sousa tentara evitar uma dramatização do episódio da véspera com os militares da GNR, congratulando-se antes por Portugal ser "cada vez mais um país seguro".
"Em 2014, éramos o 18º país mais seguro do mundo. Fomos esta semana reconhecidos como o terceiro país mais seguro do mundo". comparou, concedendo que "há cada vez mais pro-atividade e capacidade operacional das nossas forças e serviços de segurança" e que "os portugueses são devedores de um grande reconhecimento, de uma profunda admiração por uma atividade que, pela sua natureza, comporta riscos".
O Movimento Zero comenta, no entanto, que aquela pro-atividade cessou, "com efeitos a 21 de maio de 2019", em referência à alegada decisão dos seus aderentes de não passarem multas ou de não intervirem em bairros problemáticas senão em casos de manifesta urgência.
"Desde essa data que já é possível atestar o decréscimo da atividade operacional da PSP e da GNR, nomeadamente em estatísticas da justiça (detenções) e os números resultantes das contraordenações, assim como o impacto financeiro que estas vão causar nos cofres do estado", diz o Movimento Zero, acrescentando que "estes números só não são públicos, porque quer o gabinete de S. Exª, quer a Direção Nacional da PSP e o Comando Geral da GNR têm inundado a comunicação social com notícias sobre operações e dados estatísticos que muito bem sabem não corresponder à verdade". "Nós, polícias, sabemos".
O Movimento também diz ao ministro que "a infelicidade da sua intervenção foi ainda maior por nem sequer ter deixado uma palavra de solidariedade aos militares da GNR baleados em Coimbra", um dos quais se encontra "internado nos Hospitais da Universidade de Coimbra, com um projétil alojado no seu maxilar".
"Para o senhor, "somos todos Jamaica", mas jamais seremos "somos todos Polícias"", queixa-se, por Eduardo Cabrita ter usado aquela frase depois de um episódio de violência policial no bairro da Jamaica, no Seixal. "Tenha vergonha e demita-se ou, em sua honra, os cerca de 15 mil homens e mulheres da PSP e GNR vão parar o País", remata então a carta aberta.