Os portugueses estão a fugir dos depósitos a prazo e a pôr o dinheiro em contas à ordem ou em aplicações financeiras alternativas, uma vez que as taxas de juro estão a cair a pique e os bancos pagam hoje pouco mais de 0%. Se em 2008 o montante aplicado nos depósitos a prazo podia render um juro de 4,66%; hoje, a taxa é de 0,12%, um novo mínimo histórico.
"Como a maior parte das taxas de juro a prazo são muito baixas, a maioria das pessoas já não aplica [o dinheiro] a prazo porque não vale a pena", reconhece António Ribeiro, economista da Deco. Há produtos com taxas de juro superiores, que "vão até aos 0,9% a 12 meses", mas são normalmente depósitos promocionais ou condicionados à subscrição de outros produtos.
"As taxas de juro 0%, fruto da política do Banco Central Europeu, são boas para quem contraiu um empréstimo; mas são más para quem tem poupanças", alertam os economistas. E à medida que as taxas de juro caem, o peso dos depósitos à ordem aumenta. As contas à ordem já representam 38% do total do dinheiro depositado nos bancos, de acordo com os dados do Banco de Portugal. É o nível mais alto de sempre.
A gestão dos depósitos a prazo é sempre algo trabalhosa e os clientes optam por não se dar ao trabalho por entenderem que simplesmente não vale a pena", reforça Filipe Garcia, economista do IMF.
António Ribeiro alerta para outro fator a ter em conta e que é muitas vezes esquecido: a inflação. "Com uma taxa de inflação nos 0,9% e um juro médio dos depósitos a prazo ao mínimo histórico de 0,12%, as poupanças aplicadas a prazo estão a sofrer uma degradação do seu valor".
Exemplo: um depósito a um ano de prazo de 50 mil euros contratado em 2016, feitas as contas ao juro recebido e à taxa de inflação nesse período, vale hoje, em poder de compra, apenas 48 444 euros, segundo cálculos do JN/Dinheiro Vivo. São menos 1556 euros em pouco mais de três anos. E ainda tem de pagar o imposto.
POUCAS ALTERNATIVAS
Não são muitas as opções para quem quer aplicar as suas poupanças num produto com capital garantido e baixo risco, à semelhança do que acontece com os depósitos a prazo. "Dentro dos produtos com muito pouco risco, as alternativas mais evidentes são os produtos de poupança do Estado, que têm uma rentabilidade um pouco superior à dos depósitos", afirma Filipe Garcia, referindo-se aos certificados de Aforro e aos certificados do Tesouro. O primeiro com uma taxa de juro de 0,5% e que capitaliza trimestralmente e o outro com um prazo máximo de sete anos, que paga juros anuais a uma taxa crescente e cuja média, no primeiro ano, é também de 0,5%.
Fora do universo da Banca, há outra opção. Em 2018, o montante aplicado em PPR sob forma de seguro cresceu 55,5% (de 2237 milhões de euros para 3479 milhões), segundo a Associação Portuguesa de Seguradores.