Joaquim Couto, detido no âmbito da operação "Teia", renunciou este domingo à presidência da Câmara de Santo Tirso e a todos os cargos públicos e políticos que ocupa no Partido Socialista.
O advogado do arguido, Nuno Brandão, confirmou a decisão ao JN, dizendo que Joaquim Couto entende que "não tem neste momento condições para manter o exercício dos cargos", independentemente das medidas de coação que venham a ser conhecidas no processo da operação "Teia".
No sábado, o Ministério Público (MP) pediu prisão preventiva para Joaquim Couto e a mulher, a empresária de comunicação Manuela Couto, e a prisão domiciliária com pulseira eletrónica para Miguel Costa Gomes, autarca de Barcelos. O presidente do IPO do Porto, Laranja Pontes, também detido no âmbito da Operação "Teia", saiu em liberdade.
As medidas de coação decididas pelo juiz de Instrução Criminal Artur Guimarães Ribeiro serão conhecidas na segunda-feira.
De acordo com informações recolhidas pelo JN, uma das principais situações sob investigação prende-se com alegadas cunhas políticas oferecidas por Joaquim Couto em troca de adjudicações para as empresas de comunicação geridas pela mulher.
A PJ reuniu indícios de que tal teria sido possível mediante a suposta influência política do autarca junto do Governo.
Eleito pela primeira vez como presidente da Câmara de Santo Tirso em 1982, Couto foi sucessivamente reeleito até 1999. No segundo Governo de António Guterres, foi nomeado governador civil do Porto, mantendo-se nesse posto até 2002.
Em 2013, voltou a candidatar-se e a ganhar a liderança da autarquia de Santo Tirso, tendo sido reeleito quatro anos mais tarde.
A mulher, Manuela Couto, é administradora da W Global Communication e já foi constituída arguida em outubro, no âmbito da operação Éter, relacionada com o Turismo do Norte, tendo pago uma caução de 40 mil euros para ficar em liberdade.
Com a renúncia de Joaquim Couto, o vice-presidente Alberto Costa passa a ser o presidente da autarquia tirsense, enquanto a vaga que abre na lista de vereadores será ocupada por Nuno Linhares, o primeiro não eleito do PS nas últimas eleições autárquicas, mas ainda sem pelouro atribuído.
A operação "Teia" centra-se nas autarquias de Santo Tirso e Barcelos, bem como no Instituto Português de Oncologia (IPO) do Porto, e investiga suspeitas de corrupção, tráfico de influência e participação económica em negócio, traduzidas na "viciação fraudulenta de procedimentos concursais e de ajuste direto", segundo um comunicado da Diretoria do Norte da Polícia Judiciária, o órgão de polícia criminal que apoia o Ministério Público neste caso.
Autarca de Barcelos diz que nunca irá renunciar ao cargo
Miguel Costa Gomes afirmou que nunca irá renunciar ao cargo de presidente da Câmara de Barcelos, mesmo que lhe seja decretada a "injustificada e persecutória" medida de prisão domiciliária.
Segundo o advogado, Cerejeira Namora, o autarca disse que recebeu "um mandato do povo que irá cumprir até ao fim" e que não será o Ministério Público que o fará "trair a vontade popular".
Costa Gomes anunciou ainda que, seja qual for a medida de coação aplicada, irá recorrer da mesma e "continuar a lutar com as ingerências dos órgãos de polícia na gestão e opções políticas de uma autarquia".