Sob a chuva intensa que escorria pelos rostos, cumpriu-se esta quinta-feira o tradicional desfile pela liberdade, do Largo de Soares dos Reis, junto à antiga PIDE, até à Avenida dos Aliados, no Porto. Quando a coluna de gente chegou, a carga de água já tinha obrigado as centenas que ali esperavam junto ao palco a fugirem para entradas de cafés, hotéis e paragens. Mas não desertaram e as lágrimas de alguns misturaram-se com a chuva na hora de cantar a "Grândola, Vila Morena".
Cumprida a homenagem aos resistentes antifascistas, eram quase 16 horas quando o desfile desaguou na avenida, mais tímido e menos composto do que em anos anteriores devido ao mau tempo que deu pouca trégua. Ensopados, os manifestantes e aqueles que os esperavam repetiram palavras de ordem e dançavam depois ao som da música tradicional portuguesa, com a Chulada da Ponte Velha e a Ronda dos Quatro Caminhos em palco.
Os turistas também quiseram fazer parte dos festejos da liberdade, tal como os emigrantes de férias em Portugal. Era o caso de Maria Chauvin, de 63 anos, portuguesa de Oliveira do Bairro que vive com o marido francês perto de Biarritz.
Sentada num banco de cimento, enquanto o desfile e a chuva não chegavam, Maria guardava sete cravos vermelhos para distribuir pelo marido, cunhados e amigos. E recordou ao JN "a alegria" com que, em França, recebeu a notícia da Revolução.
Em frente ao palco, estava Armando Gonçalves, de 68 anos, que segurava pela mão as duas netas: Carolina, de quatro anos, e Matilde, de seis. Era a estreia da mais nova. "Quero passar-lhes o testemunho do 25 de Abril", disse ao JN o avô. Na altura, estava em Moçambique, na guerra colonial.
Na praça, entre aqueles que viveram a Revolução por dentro, estavam muitas famílias e também muitos jovens.