O antigo ministro Álvaro Santos Pereira disse, no parlamento, que houve "algum incómodo" e que um membro do Governo e a delegação portuguesa na OCDE quiseram remover a palavra corrupção do relatório da OCDE sobre Portugal, divulgado em fevereiro.
"Houve pelo menos algum incómodo. Quer a delegação portuguesa na OCDE, quer mais tarde um membro do Governo revelaram algumas preocupações com o relatório, nomeadamente, manifestaram a sua intenção de remover a palavra corrupção do relatório, porque disseram que o problema da corrupção em Portugal não é dos mais graves", afirmou Álvaro Santos Pereira, esta quarta-feira, na Comissão de Assuntos Constitucionais, Direitos, Liberdades e Garantias.
O antigo ministro falava na qualidade de relator do relatório da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) sobre as perspetivas económicas para Portugal - Economic Survey, na parte que se refere à reforma da justiça e à corrupção, a requerimento do PSD.
Álvaro Santos Pereira explicou que "a equipa que representou Portugal no comité era liderada pelo secretário de Estado das Finanças, Mourinho Félix".
"Nada do que está neste relatório é extremamente controverso, o que não podíamos aceitar é, só porque um Governo diz que não gosta da palavra corrupção, essa palavra não apareça", frisou Álvaro Santos Pereira.
O diretor da OCDE referiu ainda que houve um outro país, "também latino", que tentou que "não aparecessem gráficos de corrupção" e sublinhou que "em todos os países, desde a Dinamarca à Suécia, até Portugal, Itália e outros a questão da corrupção é central".
Não sei porque é que o Governo quis expurgar a palavra corrupção
Questionado sobre por que terá o Governo pedido para retirar a palavra corrupção do relatório, Álvaro Santos Pereira indicou que "não faz o mínimo sentido fingir que está tudo bem e não falar da corrupção".
"Acham que os investidores que vêm para Portugal não sabem o que se passa e precisam do relatório da OCDE para saberem? Porque é que o Governo não quis? Têm de lhes perguntar", declarou, salientando ainda que "não houve nenhuma recomendação que a OCDE fez no texto original que não ficasse no texto final".
"Não sei porque é que o Governo quis expurgar a palavra corrupção. A nossa intenção foi sempre que a questão da luta anticorrupção lá estivesse", sublinhou o antigo ministro.