O presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, afirmou, à saída do Museu do Holocausto, em Israel, não ter "dúvida" de que o nazismo era um regime de esquerda.
"Não há dúvida, não é? Partido Nacional Socialista da Alemanha", respondeu Jair Bolsonaro, com o nome do partido de Adolf Hitler, a um jornalista que o questionou se concordava com a opinião do ministro das Relações Exteriores do Brasil, Ernesto Araújo, de que o nazismo era de esquerda.
O Museu do Holocausto (Yad Vashem), em Jerusalém, cujas instalações foram esta terça-feira visitadas pelo chefe de Estado brasileiro, refere, na sua página na internet, que "grupos radicais de direita na Alemanha geraram entidades como o Partido Nazista", contrariando, assim, a posição tomada por Jair Bolsonaro.
O ministro das Relações Exteriores brasileiro afirmou em 17 de março, numa entrevista ao canal no YouTube "Brasil Paralelo", que o "fascismo e o nazismo são fenómenos de esquerda".
"Uma coisa que eu falo muito é dessa tendência da esquerda de pegar numa coisa boa, sequestrar, perverter e transformar numa coisa má. É mais ou menos o que aconteceu com esses regimes totalitários. Isso tem a ver com o que eu digo, que fascismo e nazismo são fenómenos de esquerda", afirmou Ernesto Araújo.
A entrevista causou polémica, tendo sido criticada por historiadores.
"Quando um ministro do Exterior faz esse tipo de afirmação, considero altamente problemático diplomaticamente e um absurdo cientificamente", afirmou a historiadora Stefanie Schüler-Springorum, diretora do Centro para Pesquisa sobre Antissemitismo da Universidade Técnica de Berlim, citada pelo jornal "Folha de São Paulo".
Ainda segundo a mesma fonte, o historiador Wulf Kansteiner, da Universidade de Aarhus, na Dinamarca, frisou que os nazis não seguiram políticas de esquerda. "Pelo contrário, propagavam valores da extrema-direita, um extremo nacionalismo, um extremo antissemitismo e um extremo racismo. Nenhum especialista sério considera hoje o nazismo de alguma forma um fenómeno de esquerda. Por isso, da perspetiva académica histórica, essa declaração é uma asneira", declarou, citado pelo jornal brasileiro.
O chefe de Estado brasileiro, que está em visita oficial a Israel desde domingo, liderou uma cerimónia em que acendeu uma tocha e colocou flores na Cripta da Memória criada para prestar homenagem aos seis milhões de judeus que morreram na II Guerra Mundial.
"Aquele que se esquece de seu passado está condenado a não ter um futuro", escreveu Bolsonaro no livro de visitas do museu, recordando o extermínio levado a cabo pelo regime nazi.
Na quarta-feira, o chefe de Estado brasileiro irá encontrar-se com brasileiros residentes em Israel encerrando esta visita de quatro dias.