O secretário-geral do PCP alertou o primeiro-ministro sobre o "otimismo excessivo" em relação à evolução da economia portuguesa, "que pode dar lugar à desilusão", no debate parlamentar quinzenal com o chefe do Governo.
"Um bocadinho de otimismo nunca fez mal a ninguém. O problema é quando há otimismo excessivo que pode dar lugar à desilusão. E esta é uma questão que está colocada na ordem do dia", respondeu Jerónimo de Sousa a António Costa.
O líder comunista reiterara críticas ao executivo socialista por ceder às regras ditadas por Bruxelas sem resolver os problemas de "défice produtivo" de Portugal, enquanto o primeiro-ministro louvara a linha política da atual legislatura que aliou devolução de rendimentos e direitos ao rigor nas contas públicas.
"Enquanto houver caminho, vamos caminhar. A nossa função é ir abrindo caminho para continuar a caminhar, sem que o passo vá mais longe que a perna e o otimismo não seja excessivo, mas seja com conta peso e medida, que nos tem permitido fazer tudo isto com contas certas", afirmou Costa.
Jerónimo de Sousa começou por defender o "aumento dos salários a par da valorização das carreiras, considerando os mais novos, mas não desvalorizando nem ignorando os que trabalham há dezenas de anos e cujo trabalho deve ser plenamente reconhecido".
"O crescimento económico ficou, contudo, aquém do que era necessário e possível para recuperar anos de atraso e ultrapassar défices estruturais, desde logo o produtivo. Pesaram negativamente as opções do Governo ao aceitar os constrangimentos impostos pela União Europeia (UE), os critérios do Tratado Orçamental, que o Governo levou mais além, designadamente o critério do défice, com impacto negativo no investimento e um serviço da dívida severamente condicionado", disse.
Segundo o secretário-geral comunista, "o país demorou dez anos para recuperar em termos reais o nível de produção de 2008, mas o PIB" atual "tem uma estrutura bem diferente e porventura pior".
"Mais do que medidas isoladas, aquilo que será retido é que, nesta legislatura, tivemos uma vitória histórica sobre a visão de modelo de desenvolvimento que a direita apresentava para o país", congratulou-se o primeiro-ministro, salientando que "é evidente que estar na UE tem constrangimentos, mas tem também um mar de oportunidades".
Para Costa, "esta mudança de modelo de desenvolvimento será o que de mais duradouro perdurará a partir desta legislatura porque nunca mais ninguém aceitará voltar a andar para trás e já todos reconhecem que não é à custa de baixos salários e destruição de direitos" que Portugal pode ser competitivo economicamente.
"Essa é a grande vitória que temos sobre o conjunto da direita portuguesa", frisou.
Jerónimo de Sousa concluiu a sua intervenção sublinhando os "20 anos de luta" do PCP pela redução das tarifas dos passes intermodais e que se vai concretizar agora, a partir de abril, mas pediu maior oferta de transportes ferroviários, fluviais e rodoviários ao serviço das populações.
António Costa garantiu estarem em curso procedimentos para a aquisição de mais material circulante nas diversas vertentes dos transportes públicos.