Ficaram sem apartamento e estão nas escadas do prédio do edifício onde moraram durante 19 anos, no centro da cidade. A Câmara recusa realojamento.
"Nunca pensei poder vir a passar por uma situação destas. Não conseguimos travar a sucessão de coisas más. Ficamos sem dinheiro, sem a casa, desempregados e sem saúde", conta José Alberto Sampaio, junto aos degraus do edifício onde morou durante 19 anos e cuja casa teve de deixar, na Rua Vitorino Nemésio, na Maia.
Juntamente com a mulher, um filho e a sogra, diz não ter para onde ir. A Câmara da Maia recusa fazer o realojamento por o agregado ter "rendimentos que permitem resolver a sua situação no mercado de arrendamento privado".
Tudo começou "por causa de dois carros". José Alberto foi fiador do filho Hugo na aquisição das duas viaturas. O incumprimento no pagamento levou ao avolumar de dívidas e, quando o agregado se apercebeu, "já a coisa estava incontrolável". Para evitar que a situação se agravasse, José Alberto avisou o banco ao qual pagava todos os meses a prestação do empréstimo. "Nunca fiquei a dever", diz. E, quando já não pôde pagar, declarou a insolvência. Os factos ocorreram no ano passado e o agregado familiar sabia que, mais cedo ou mais tarde, teria de deixar a casa onde morava desde os 12 anos do filho.
O apartamento acabou por ir a leilão e as notificações começaram a chegar. "O problema desta família, que é desestruturada, é também a falta de juízo", afirma um vizinho que recusa identificar-se. Há três meses souberam da decisão final e no dia 15 deste mês a nova proprietária do imóvel trocou a fechadura deixando "tirar as coisas de lá de dentro". Primeiro instalaram-se no corredor junto às escadas, onde dormiam "para não apanhar frio". Desde a passada sexta-feira, estão na entrada do prédio, agora repleto de sacos pretos com roupas, estantes, colchões e um sofá, onde Maria de Fátima dorme.
Condomínio desagradado
"A casa foi vendida em setembro e esta família precisa de ajuda. É disfuncional! A administração do condomínio está a ajudar no que pode, até porque os outros moradores, apesar de solidários, não querem isto à porta do prédio", afirmou ao JN Maria João Pinto, da administração do condomínio. Também a representante no edifício se mostra chocada com a situação. Emília Nogueira, representante dos moradores no condomínio, tem enviado "emails para diferentes entidades, para que haja uma ajuda a esta família".
Apanhados pelo desemprego
Todos os elementos deste agregado estão desempregados. José Alberto Sampaio tem 58 anos, já foi motorista e eletricista, mas a falta de formação e a idade fazem com que há quatro anos esteja no desemprego. A mulher, Maria de Fátima, de 57 anos, nunca ficou bem de saúde depois de a empresa têxtil Maconde ter fechado portas. O filho Hugo tem 31 anos, foi operador de picking (preparava encomendas) na Sonae, mas, assim que terminou o contrato, mandaram-no embora.
Os subsídios terminam em junho e não conseguem pagar três meses de adiantamento numa casa arrendada, embora no conjunto aufiram mensalmente cerca de 1800 euros.