O ex-marido da inspetora da Polícia Judiciária Ana Saltão, que foi julgada pelo homicídio da avó do companheiro, foi absolvido pelo Tribunal de Coimbra, esta quarta-feira, do crime de falsidade de testemunho.
O arguido, também inspetor da PJ, tinha sido acusado pelo Ministério Público de mentir, quando depôs como testemunha no julgamento da sua então companheira, em 2017, para dificultar a descoberta da verdade por parte da Justiça.
No dia 9 de janeiro deste ano, Ana Saltão também tinha sido ilibada do homicídio que vitimou Filomena Gonçalves, de 80 anos, em Coimbra. O Tribunal da Relação de Coimbra invocou, então, o princípio "in dubio pro reo", para confirmar a absolvição da inspetora do homicídio cometido, em 2012, com pelo menos 14 tiros contra a octogenária.
Esta quarta-feira de manhã, um tribunal singular (de uma única juíza) da Comarca de Coimbra também invocou o mesmo princípio que manda favorecer o arguido em caso de dúvida.
Na audiência de julgamento, a que assistiram vários jornalistas e algum público, a juíza titular não deu qualquer outra explicação sobre a sua sentença.
À saída do tribunal, o advogado de defesa do arguido, Rui Silva Leal, reiterou que o depoimento prestado pelo seu cliente no julgamento da ex-mulher foi verdadeiro, acrescentando que a acusação contra ele foi apenas o resultado da postura "persecutória" que o Ministério Público revelou nas diferentes fases do processo do homicídio. "O depoimento dele [arguido] foi escrutinado vezes sem conta e sempre o consideraram credível", sublinhou Rui Silva Leal, que também foi advogado de defesa de Ana Saltão, em parceria com Mónica Quintela.
Segundo a acusação do Ministério Público, Carlos Coelho tinha prestado depoimentos contraditórios durante a investigação e no julgamento de Ana Saltão. No primeiro, à Polícia Judiciária, teria ajudado a tese acusatória, enquanto no julgamento fez o contrário.
Esta quarta-feira, Rui Silva Leal comentou ainda que o acórdão de 9 de janeiro deste ano que absolveu Ana Saltão "perde muitas folhas" com o que depôs Carlos Coelho naquele processo e conclui que o seu primeiro depoimento, prestado na fase de inquérito e que contribuiu para a detenção e prisão preventiva de Ana Saltão, "foi manipulado".
Na acusação deduzida contra Carlos Coelho, o Ministério Público do Departamento de Investigação e Ação Penal de Coimbra tinha apontado discrepâncias entre os depoimentos de Carlos Coelho que se relacionariam, nomeadamente, com um incidente ocorrido com o telemóvel de Ana Saltão e com a necessidade de o casal recorrer à avó para resolver problemas financeiros (o móbil do crime de homicídio, para o Ministério Público).
Durante o inquérito, em 2013, Carlos Coelho assumiu problemas que o teriam levado a si e à mulher a pedir dinheiro emprestado a Filomena Gonçalves. Já em julgamento, em 2017, sustentou que, apesar de algumas dificuldades, conseguia gerir o orçamento familiar sem dificuldades de maior.
Quanto ao telemóvel de Ana Saltão, o ex-marido começou por manifestar estranheza, perante a PJ, por o aparelho ter estado desligado durante a tarde do crime, em 21 de novembro de 2012. Mas, no julgamento, diria que o referido telefone estava sempre a desligar-se, porque se derramara sobre ele um copo de vinho, pouco tempo antes do homicídio.