José Padilha, realizador dos sucessos internacionais "Tropa de Elite", vencedor do Urso de Ouro no Festival de Berlim, e de "Tropa de Elite 2", maior bilheteira da história do cinema brasileiro, que abordam as relações entre polícias, traficantes e milicianos no Rio de Janeiro, diz que talvez "os eleitores de Bolsonaro que acharam que estavam votando no Capitão Nascimento tenham votado no Major Rocha, o chefe da milícia".
O Capitão Nascimento, personagem interpretado por Wagner Moura nos dois filmes, é o incorruptível agente do Batalhão de Operações Especiais, BOPE, capaz de tudo, mesmo além dos limites da lei, para combater o crime. O Major Rocha, vivido pelo ator Sandro Rocha, é um personagem que ganha importância no segundo filme como o polícia corrupto que se torna chefe da milícia na comunidade.
Em conversa por email com o jornal Folha de S. Paulo, Padilha fala ainda sobre Adriano Nóbrega, ex-polícia considerado o chefe do "Escritório do Crime", braço criminoso de uma milícia da zona oeste carioca que segundo as autoridades executava políticos e líderes do jogo ilegal, cuja mãe e mulher fizeram parte do gabinete de Flávio Bolsonaro, primogénito do presidente, na assembleia legislativa do Rio. "Ele é considerado por muitos agentes da polícia que conheço no Bope como um polícia matador e supostamente envolvido na morte de 'bicheiros' [chefes do jogo ilegal], presidentes de escolas de samba e milicianos inimigos".
Flávio atribui a Fabiano Queiroz, o seu assessor, a indicação das duas familiares de Nóbrega. Queiroz que, em paralelo, é investigado pelo ministério público por indícios de corrupção e lavagem de dinheiro num caso que envolve até depósitos na conta da primeira-dama Michelle Bolsonaro.
Para Padilha, "Bolsonaro é unfit for office", ou seja, a expressão em inglês para inapto para o cargo de presidente. Crítico habitual do PT no poder, o realizador, no entanto, considera Fernando Haddad, o opositor de Bolsonaro na segundas volta das eleições, "inapto também".
em São Paulo