Num ano com três eleições, o presidente da República volta a mostrar-se preocupado com a saúde da democracia portuguesa e deixa avisos a cidadãos e políticos.
Pela segunda vez desde o Natal, Marcelo Rebelo de Sousa fez um aviso à navegação. No ano eleitoral de 2019, Portugal terá de responder com o voto e com responsabilidade aos riscos de um populismo e polarização social capazes de destruir a democracia. E deixou um roteiro de ação aos próximos governantes: a justiça social, o combate à pobreza e a correção das desigualdades. "Não há democracia que dure onde alguns poucos concentrem tanto quanto todos os demais."
Na mensagem de Ano Novo, transmitida na noite desta terça-feira, Rebelo de Sousa alertou contra as "arrogâncias intoleráveis, promessas impossíveis, apelos sem realismo, radicalismos temerários, riscos indesejáveis", que poderão destruir a democracia portuguesa, que tanto custou a "pôr de pé".
Mais transparência
Preocupado com a saúde da democracia, o presidente da República vê um país já em plena campanha eleitoral para três eleições que se avizinham: europeias a 26 de maio, regionais da Madeira a 22 de setembro e legislativas a 6 de outubro. Com Rebelo de Sousa a deixar avisos a eleitores e políticos.
Aos eleitores, lembra a responsabilidade de votar. "Não se demitam de um direito que é vosso, dando mais poder a outros do que aquele que devem ter." Deve-se votar e discutir política, mas sem partir a sociedade portuguesa em fações incapazes de chegar a consensos. "Debatam tudo, com liberdade, mas não criem feridas desnecessárias e complicadas de sarar."
Nem esqueçam que os protestos têm consequências, como a greve dos enfermeiros às cirurgias, que poderá continuar este ano: "Respeitem sempre os outros, os que de vós discordam e os que podem sofrer as consequências dos vossos meios de luta."
Aos políticos, recomenda que analisem, "com cuidado", o seu próprio percurso e "assumam o compromisso de não desiludir" os eleitores, alheando-os mais ainda da política.
Sem especificar os sucessivos escândalos com deputados à Assembleia da República, ou a aparente incapacidade de se disciplinarem num código de ética e conduta, há anos parado nos corredores do Parlamento, Marcelo Rebelo de Sousa voltou a insistir na "ambição de dar mais credibilidade, transparência, verdade" às instituições políticas.
Os frágeis e excluídos
Além da credibilização da política, o chefe de Estado quer que Portugal reforce a vocação "de plataforma que une povos, culturas e civilizações" e assegure um crescimento económico que o aproxime da riqueza europeia. Só assim será possível "ultrapassar a condenação de um de cada cinco portugueses à pobreza" e a "fatalidade" de viver "a ritmos diferentes, com horizontes muito desiguais".
Este é um tema sempre presente nas suas intervenções: a "dignidade da pessoa, de todas as pessoas, a começar nas mais frágeis, excluídas, ignoradas". Tal como os valores básicos de um Estado de Direito. "Que não há ditadura, mesmo a mais sedutora, que substitua a democracia, mesmo a mais imperfeita", avisa.