De todos os países da União Europeia, é em Portugal que mais se morre por pneumonia: a taxa de mortalidade é mais do dobro da média europeia. A cada 90 minutos há um óbito por pneumonia nos hospitais públicos.
E é no interior do país que se verifica tanto uma maior taxa de mortalidade como de internamentos. O cenário, negro, e que persiste de ano para ano, é explicado pelo Observatório Nacional das Doenças Respiratórias, que apresenta, em Lisboa, o seu mais recente relatório, esta quinta-feira.
De acordo com o documento, a que o JN teve acesso, dos 13.474 óbitos por doenças respiratórias registados em 2016, 44,6% foram por pneumonia, com a taxa de mortalidade dos doentes internados a fixar-se nos 20%. Do lado dos internamentos, as "maiores incidências são em distritos do interior, nomeadamente Bragança, seguida por Castelo Branco, Vila Real e Portalegre". Quanto à "mortalidade são os distritos de Beja, com 25% dos óbitos, seguidos por Setúbal (24%), Portalegre (22%) e Santarém e Faro (21%)".
"Vou mostrar um slide onde estão os hospitais, quase todos no litoral. Morre-se mais no interior do que no litoral devido ao afastamento dos centros hospitalares", frisa o pneumologista António Carvalheira dos Santos, um dos relatores do relatório. Exemplificando com o facto de em "Portalegre, Bragança ou Castelo Branco haver um ou dois pneumologistas", o que resulta num "mau controlo dos doentes em Portugal porque não são controlados pela especialidade".
Vacinar população
Depois, constata o também chefe do serviço de Pneumologia do Hospital Pulido Valente, "os doentes com internamento até três dias e com óbito estavam mais afastados do hospital onde estavam internados". Para este clínico, os dados das pneumonias são "gravíssimos", sabendo-se que os doentes com 65 ou mais respondem por 93% do total de óbitos de internados por aquela doença.
Razão pela qual, defende António Carvalheira dos Santos, "a vacina antipneumocócica devia fazer parte do Plano Nacional de Vacinação e aí estaríamos a poupar vidas e dinheiro". Em 2013, o custo médio de um internamento por doença respiratória rondava os 1900 euros. Respondendo as pneumonias por 7% dos internamentos médicos.
DPOC subdiagnosticada
Na radiografia feita por aquele Observatório, sobressaem ainda, pela negativa, os dados relativos à Doença Pulmonar Obstrutiva Crónica (DPOC), que "em 15 anos passou de 5.ª causa de morte para 3.ª". Estima-se que 800 mil portugueses sofram de DPOC, mas "apenas estavam referenciados nos centros de saúde 132 mil" e, desses, só um terço tinha o diagnóstico confirmado por espirometria. Em 2016, a DPOC foi responsável por 20,7% do total de óbitos registados por doenças respiratórias.
"Um horror", desabafa o pneumologista do Pulido Valente. Um bom "plano terapêutico devia contemplar a prevenção - tabaco e vacinação antigripal e antipneumocócica -, tratamento de acordo com as "guidelines" e reabilitação respiratória". Mas os dados mostram que apenas 2% dos doentes que necessitam daquela reabilitação têm acesso.
A seguir ao cancro e às doenças cardiovasculares, as doenças respiratórias são a 3.ª causa de morte em Portugal, sendo responsáveis por 19% dos óbitos e a principal causa de internamento hospitalar. Entre 2007/2016, o número total de internamentos aumentou 26%. Já o número de consultas subiu 1,3%.
Transplante pulmonar
O relatório traz, também, cenários positivos, com Portugal na linha da frente em termos de transplantes pulmonares. O Centro Hospitalar Lisboa Central (CHLC) é o único que os faz e, de 1991 até hoje, já realizou 208 transplantes.
Atentos à tuberculose
Portugal tem hoje dos melhores indicadores ao nível da tuberculose, diz António Carvalheira. Contudo, regista-se um aumento da doença entre a população imigrante, com 19,2% dos casos, o que obriga a uma maior atenção, defende.
Consumo de tabaco
O tabaco foi responsável por 46,4% das mortes por DPOC, 19,5% das mortes por cancro e 12% das mortes por infeção respiratória inferior. Estima-se que, em 2016, tenham morrido em Portugal 11.800 pessoas devido a doenças relacionadas com o tabaco.