A Casa Branca de Donald Trump terá promovido no ano passado encontros com militares venezuelanos dissidentes para avaliar um eventual golpe de Estado e derrubar o presidente Nicolás Maduro. Encontros que incluíram gente tão recomendável aos olhos de Washington que são alvo de sanções económicas.
A notícia é avançada pelo jornal norte-americano "The New York Times" (NYT), que cita fontes de ambas as partes, fala em "canal clandestino com golpistas" e compara a iniciativa dos EUA com manobras passadas em vários países da América Latina.
Além de ter ponderado intervir para travar a esquerda no Brasil de 1964, Washington é ligada aos rebeldes "contra" da Nicarágua e ao golpe que matou Salvador Allende e entregou o Chile a Augusto Pinochet, para não mencionar Cuba e a Baía dos Porcos.
Um dos militares rebeldes ouvidos pela Casa Branca era um dos que Washington acusa de crimes como tortura de críticos e presos políticos, tráfico de droga, repressão de civis e colaboração com as antigas Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (as marxistas-leninistas FARC, agora partido político por força do acordo de paz de 2016).
O facto de Trump ter dito, há ano, que preparava uma "solução militar" para a Venezuela, os dissidentes ter-se-ão sentido encorajados, depois de a anterior administração ter rejeitado tentativas de contacto. "Os oficiais americanos decidiram finalmente não apoiar os golpistas e o plano de golpe atolou", adianta o NYT, que recorda que a simples disposição da administração Trump em conversar com dissidentes alimenta a tese defendida por Maduro de que "os imperialistas de Washington" estão por detrás da crise que afunda o país e de tentativas para afastá-lo do poder, como o alegado atentado com drones numa parada militar, em agosto.
Confrontada, a Casa Branca respondeu apenas com a importância do "diálogo com todos os venezuelanos que demonstram um desejo de democracia e de mudança positiva num país que tem sofrido tanto sob Maduro".