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INFORMAÇÃO / DESPORTO => Secção Informação => Informação Nacional => Tópico iniciado por: Nelito em 02 de Maio de 2016, 07:10

Título: O caçador de lojas de souvenirs agora vai contar hotéis na Baixa
Enviado por: Nelito em 02 de Maio de 2016, 07:10
João, sociólogo, mora há cinco anos no coração da capital e quer serviços para moradores. Só lojas de recordações contou 52. Mas critica posições extremadas em relação ao turismo
(http://static.globalnoticias.pt/storage/DN/2016/dn2015_detalhe_topo/ng6646041.jpg)
João Fernandes tem 35 anos, reside na Calçada de São Francisco, na Baixa de Lisboa, há cinco e não se conforma por, "enquanto morador", não ter "nada" para si perto de casa nem conseguir dar um passeio sem que alguém lhe mostre um menu a perguntar se quer almoçar ou jantar.

A indignação já o tinha levado a lançar uma petição, que chegou a ser apreciada na assembleia municipal, a solicitar uma ação imediata sobre os supostos traficantes de droga no centro da cidade e, há cerca de um mês, incentivou-o a contar o número de lojas de baixo custo que existem entre a Praça do Rossio, a Rua da Betesga e a Praça da Figueira, a norte; a Rua do Arsenal, o Terreiro do Paço e a Rua da Alfândega, a sul; a Rua Nova do Almada e a Rua do Carmo, a oeste; e a Rua da Madalena, a este. Ao todo, são 52 os espaços que vendem galos de Barcelos ou camisolas da seleção nacional de futebol com o nome de Cristiano Ronaldo impresso nas costas - um número que seria bastante mais elevado se a contagem tivesse incluído as artérias escolhidas como limite do território abrangido pelo estudo.

"Tinha de ter um critério e esta área é a que tradicionalmente corresponde à Baixa Pombalina", explica ao DN o sociólogo, que garante não ter ficado surpreendido com o resultado. "Morando ali e passando ali diariamente, acabou por não me surpreender", sublinha, ressalvando que não tem nada "contra os comerciantes" que as exploram e que são, maioritariamente, imigrantes. O problema é que, alega, "são muitas" e descaracterizam a Baixa, ainda que, ressalva, sejam "apenas um elemento". Tenciona, por isso, vir a contar também o número de hotéis e de espaços de alojamento local que ali existem "assim que tiver alguma disponibilidade".

João Fernandes, que prefere não ser fotografado, lembra que o levantamento em causa "contempla apenas o número absoluto de lojas" e que "seria relevante de futuro calcular o [seu] peso percentual [número de "lotes" ocupados/número total de "lotes"]". Por agora, fez esse exercício apenas para a Rua da Prata, onde foi contabilizado o maior número de lojas de baixo custo - 14, correspondente a "uma ocupação de cerca de 5%". "Seria interessante calcular esta percentagem em todas as ruas e comparar as percentagens de outros tipos de atividade", sugere.

Apostar na diversidade

Defensor de que uma Baixa caracterizada é uma Baixa "diversificada" com moradores, turistas e atividades económicas que não estejam dedicadas somente a um setor, o lisboeta, que antes morava no Bairro Alto, critica a polarização cada vez mais habitual ao debater-se o crescimento do turismo na capital. "Quando partilhei [o documento] com alguns blogues, notei logo posições extremadas", recorda, admitindo que, no caso das chamadas lojas de recordação de baixo custo, há quem ceda ao racismo e à xenofobia. Talvez por isso termine o estudo comparando o caso destes estabelecimentos com o dos dedicados à venda de drogas legais, "cuja legislação resolveu a sua proliferação".

"As lojas de recordações de baixo custo vendem todas o mesmo. Seria exatamente igual se só houvesse lojas de conservas antigas. Qualquer loja pequena que fecha tende a transformar-se numa loja destas. São lojas com uma dinâmica de trabalho diferente da nossa, mais alargada. Não é nada contra os imigrantes. Em qualquer negócio ou ramo que esteja a crescer demasiado, punha-se uma quota", salienta, reiterando que faltam na Baixa comércio e serviços dirigidos a quem ali mora.

João Fernandes não compreende ainda a ideia de que há outros assuntos com que se preocupar, até porque reside numa artéria quase exclusivamente habitacional. "Há vários problemas, neste momento estou preocupado com este", defende, frisando que o assunto se tem tornado mais mediático, nomeadamente desde que em março foi anunciado o encerramento, entretanto suspenso, das discotecas Tokyo, Jamaica e Europa, no Cais do Sodré. "Este é apenas um contributo", sustenta, sem esconder que "leva a peito" a forma como diariamente é importunado ao andar na rua: "Uma vez na Rua dos Correeiros queixei-me e o que me responderam foi "não ande por aqui"."