Cristiano Ronaldo encomendou-lhes o baptizado do filho. No Rock in Rio tiveram de satisfazer caprichos de várias estrelas. Durante a cimeira da NATO, em 2010, em Lisboa, prepararam refeições para Obama, Zapatero e Hillary Clinton. E quando a princesa Diana veio pela primeira vez a Portugal, foi a Casa do Marquês que organizou a recepção oficial no Castelo de São Jorge.
Fundada em 1989, esta empresa portuguesa especializada em eventos e catering conta com clientes de peso no currículo. Entre eles, a presidência da República e todos os encontros oficiais do protocolo de Estado, a UEFA, a Confederação Portuguesa de Futebol, o Sporting, grandes empresas nacionais.
Detida pelo ex-futebolista José Eduardo Sampaio e por dois filhos, e pela actual mulher, Florbela Bem, a Casa do Marquês tanto pode preparar um jantar romântico para um casal num sítio idílico, como servir banquetes a grupos, caso do Congresso dos Rotários, com 27 mil participantes. Jantares de Natal e festas de casamento também fazem parte do cardápio de serviços.
“O protocolo de Estado é o mais rigoroso. A minúcia e o pormenor são levados ao extremo, devido à segurança. Na cimeira União Europeia-Rússia, a nossa comida foi escoltada até ao Convento de Mafra. Mas a Cimeira da NATO foi a mais complicada em termos de segurança”, conta o ex-campeão do Sporting, sobretudo porque os chefs tinham de entrar com facas para elaborar os respectivos menus.
Ainda assim, e apesar de tudo ser planeado ao milímetro, o encontro teve os seus momentos. Barack Obama, bastante informal, ajudou a pôr cápsula de café na máquina e ofereceu embalagens de M&M autografadas para os filhos dos funcionários. E Zapatero não se escusou a dois dedos de conversa sobre futebol com um dos empregados de mesa
“Temos capacidade para cuidar do detalhe, que é o que faz a diferença, mas também trabalhar em grandes quantidades”, continua o fundador. Em média, detalha, a Casa do Marquês assegura diariamente quatro eventos. Mas, num dia complicado, podem ser 12 ou até 15.
Um dos que faltava ao seu ‘palmarés’ era o Rock in Rio. Mas na edição de 2012, foi a empresa escolhida para tratar de todas as refeições, incluindo as dos artistas. “Estávamos à espera de pedidos estranhos e acabámos por não ter quase nenhum. O Bruce Springsteen mandou-nos uma receita com um xarope muito especial. Ensaiámos a receita e fizemos litros porque não sabíamos para que seria. Mas nem sequer lhe tocou”, recorda por sua vez Florbela Bem.
Em matéria de desejos caricatos, o historial da Casa do Marquês também é extenso. “Já tivemos de pendurar tecidos Hermès em árvores”, aponta o e empresário. Noutra ocasião, passou-se uma noite inteira a substituir as flores cor-de-rosa de um jardim por amarelas. Num jantar em Minneapolis, nos Estados Unidos, os tradicionais pastéis de bacalhau tiveram de ser reinventados: passaram a ter forma de hambúrguer.
“Na festa, o que interessa é o impacto inicial”, nota Florbela, que pode passar uma hora a discutir a cor e a forma dos guardanapos com um cliente. Quando se trata de grandes congressos, a preparação chega ser feita com uma antecedência de dois ou três anos.
Por isso, nas novas instalações da Casa do Marquês, criadas de raiz e inauguradas no ano passado, também há espaço e gente dedicada a criar peças de mobiliário e de decoração específicas para determinado evento. Além da carpintaria e serralharia, há uma cozinha com capacidade para confeccionar 30 mil refeições. E ainda lavandaria e um armazém onde se guardam mais de 200.000 artigos, suficiente para servir 15 mil pessoas. São mais de 3.500 cadeiras, 40 mil talheres, 40 mil copos e 30 mil pratos, milhares de toalhas e almofadas, mas também piscinas, tendas, colchões e castiçais, representando um investimento de 2,2 milhões de euros.
Com 80 colaboradores – que podem chegar a 300, se é preciso contratar para um grande evento – e uma facturação que ronda os 9 milhões de euros, ligeiramente menos do que antes da crise, na Casa do Marquês, a estratégia para superar a conjuntura económica tem sido a aposta na diversificação e inovação. Para tal, estabeleceram-se parcerias com espaços de diferentes características como a Estufa Fria, Meo Arena, Coconuts e vários centros de congressos, desenharam-se novos formatos de festas – como os casamentos que começam com o corte do bolo – e testaram-se sabores diferentes, além da importância da planificação e da logística como factores de sucesso.
“Uma forma de resolvermos a crise é sermos criativos. Entre as últimas criações estão os gelados. Criámos sabores a salmão, queijo de Azeitão, creme de camarão, gorgonzola, ou de mil folhas”, resume José Eduardo Sampaio.