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INFORMAÇÃO / DESPORTO => Secção Informação => Informação Nacional => Tópico iniciado por: Nelito em 25 de Abril de 2016, 13:41
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Presidente pede entendimentos na Saúde, Justiça, Segurança Social, sistemas político e financeiro e avisa que seu mandato "não depende de eleições intercalares"
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Marcelo Rebelo de Sousa não quer ouvir falar de eleições antecipadas, de ruturas sociais ou da impossibilidade de os partidos com assento parlamentar se entenderem mas deixou esta segunda-feira, na sessão comemorativa do 42.º aniversário do 25 de Abril, vários apelos e outros tantos avisos quer à maioria de esquerda, quer à oposição de direita.
O Presidente da República introduziu esses três tópicos lançando igual número de questões aos que estavam presentes no Parlamento - e estavam lá todos, do primeiro-ministro, António Costa, e dos seus parceiros de governação, Catarina Martins e Jerónimo de Sousa, aos presidentes do PSD, Pedro Passos Coelho, e do CDS, Assunção Cristas -, depois de vincar que temos "dois distintos modelos de governação". "Vamos prosseguir em clima de campanha eleitoral?", "Os consensos de regime são impossíveis?" e "A unidade essencial entre os portugueses é questionada pelas duas distintas propostas de governo?", interrogou o Chefe do Estado, que também tratou de dissipar as dúvidas.
"A resposta a estas três questões só pode ser negativa para os portugueses." E, em particular para o Presidente da República, acrescentou, antes de fazer um aviso à navegação ao lembrar que o seu mandato "é, por sua própria natureza, mais longo e mais sufragado do que os mandatos partidários" nem "depende de eleições intercalares".
Feito o alerta, Marcelo notou que o país "não pode nem deve continuar a viver, sistematicamente, em campanha eleitoral", dado que as atuais circunstâncias exigem "estabilidade política, crucial para a estabilidade económica e social". A esquerda gostou do que ouviu e aplaudiu, tal como fizera momentos antes quando o Presidente saudou os capitães de Abril.
Porém, mesmo tendo cortado rente essa ideia, o Chefe do Estado defendeu que "o estimulante pluralismo político não impede consensos setoriais de regime". E até deu a receita para a aproximação entre as duas "metades" do hemiciclo: "Alguns dos quais não precisam sequer de formalização para se irem afirmando diariamente." Nessa lógica, apontou a Saúde como caso mais paradigmático, mas sinalizou que também na Justiça e na Segurança Social ou na "revitalização do sistema político" e na "estabilidade do sistema financeiro" é possível dar "passos lentos mas profícuos".
Numa intervenção carregada de indiretas mas de quem pede unidade para que as feridas da crise sejam saradas, o Presidente da República recordou os sacrifícios, os cortes, as penalizações que os portugueses sofreram, bem como a emigração, a precariedade e o desemprego. Assim, insistiu, "para uns, a governação atual é promissora" e "para outros, um logro", mas, qual fiel da balança, Marcelo assinalou que "mais instabilidade" e "mais insegurança" "não abre caminhos". Antes, disse, "fecha horizontes".
Os recados, esses, não ficaram por aí. Socorrendo-se do espírito da Revolução dos Cravos, Marcelo lembrou que a democracia "faz-se de pluralismo", embora não tenha contido a alfinetada que pareceu ter Pedro Passos Coelho como destinatário: "Quem se pretenda alternativa, de um lado e de outro, demonstre, em permanência, a humildade e a competência para tanto."
Mas o caderno de encargos apresentado ao governo de António Costa também não foi curto. Marcelo quer que se dê mais valor à língua e à cultura, que se vá mais longe na educação, na ciência e na inovação, que se dê mais peso às comunidades espalhadas pelo mundo e uma aposta mais forte na Comunidade dos Países Língua Portuguesa (CPLP).
Marcelo defende também uma revisão do sistema político e do seu "fechamento" em torno dos partidos e dos parceiros sociais, sugerindo que se recriem "formas de aproximação entre eleitores e eleitos" e ainda que se aperte a malha à corrupção e à transparência na vida política. Outra das prioridades terá de ser a igualdade e a inclusão da mulher na política e nas chefias administrativas e à integração dos imigrantes.
Na mesma toada, um apontamento sobre a Europa, que quer "menos confidencial, menos passiva, mais solidária, mais atenta às pessoas e, sobretudo, que não pareça aprovar nos factos o oposto daquilo que apregoa nos ideais".
Terminada a leitura da intervenção, de sete páginas, o Presidente ouviu os aplausos das bancadas que já o tinham aclamado na tomada de posse: PS, PSD e CDS. Bloco e PCP não o fizeram.